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Agosto: Mês de imperador!
6 de agosto de 2016
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Não sei se foi neste mês que o Imperador Augusto nasceu, se estava de férias das suas fun¬ções, se morreu, ou se foi quan¬do pescou pela primeira vez um peixe, ao qual deu nome da sua posição socio-política. Sei é que, segundo os dicionários, foi por causa de Augusto que existe o mês de Agosto!
Agosto é mês de férias por exce¬lência!
Descanso, praia ou campo ou cidade, vila ou aldeia; no País ou no estrangeiro; sozinhos ou acompanhados, com ou sem família; tempo de patuscadas, de pôr as conversas em dia, tempos de balanço e de perspec-tivar os tempos que adiante se avizinham.
Muito se passou de Janeiro a Agosto: desde a Gala do Notícias de Loures, que entregou prémios às figuras e instituições mere¬cedoras do concelho de Loures (um abraço Bruno “Kandimba” Semedo!), até ao Campeonato da Europa que trouxe a Taça e a alegria a Portugal de lés-a-lés!
Desapareceram Artistas, com certeza nasceram outros, morre¬ram milhares no Mediterrâneo, a guerra na Síria, a corrupção em Portugal e no resto do mundo, estrearam espectáculos e outros terminaram a sua carreira, cinco medalhas individuais (2 Ouro, 1 Prata, 2 Bronze) e uma medalha por equipas (Ouro) foi o resultado do Campeonato da Europa de Atletismo para Portugal. La Féria prepara o regresso de Eunice Muñoz com “As Árvores Morrem de Pé”, sanções da UE que não chegaram a ser, o Festival do Caracol e as Festas de Loures, a novela “A Única Mulher” ainda não acabou, Marcelo Rebelo de Sousa é Presidente da República e António Costa de mãos dadas com a esquerda continua a tentar atirar para bem longe a auste¬ridade, os Festivais de Verão andam por aí, a Festa do Avante inicia o mês de Setembro e o tea¬tro também teve o seu Festival em Almada.
E por falar em Teatro e em Almada, foi lá que estreou o mais recente trabalho do Teatro Meridional do qual, confesso, sou espectador atento e, porque não dizê-lo, fã incondicional desta companhia e do seu trabalho.
Falamos de “A Lição” de Eugène Ionesco, autor nascido em Slatina, Roménia, a 26 de Novembro de 1909 e que morreu em Paris a 28 de Março de 1994, foi um dos maiores dramaturgos do teatro do absurdo. Para lá de ridicula¬rizar as situações mais banais, as peças de Ionesco retratam de uma forma tangível a solidão do ser humano e a insignificância da sua existência. Eugênio Ionesco é considerado, com o Irlandês Samuel Beckett, o pai do teatro do absurdo, segundo o qual é preciso “para um texto burles¬co, uma interpretação dramática; para um texto dramático, uma interpretação burlesca”. Porém, além do ridículo das situações mais banais, o teatro de Ionesco representa de maneira palpável, a solidão do homem e a insignifi¬cância de sua existência. Ele não queria que suas obras fossem categorizadas como Teatro do absurdo, preferindo em vez de absurdo, a palavra insólito. Ele percebeu no termo insólito um aspecto ao mesmo tempo pavo¬roso e maravilhoso diante da estranheza do mundo, enquanto a palavra absurdo seria sinónimo de insensato, de incompreensão. «Não é porque não compreende¬mos uma coisa que ela é absur¬da».
“A Lição” é-nos apresentada/representada por Elsa Galvão, Miguel Seabra e Sara Barros, numa encenação com a assina¬tura inimitável de Miguel Seabra.
Sobre o espectáculo dizem-nos os directores do Meridional, Natália Luiza e Miguel Seabra: “Neste momento do mundo em que os processos de comunica¬ção aparentemente tornam mais próximas as relações humanas, deparamo-nos com o efeito pre¬cisamente contrário em que o fechamento do indivíduo sobre si próprio é uma evidência ine¬quívoca. E, como consequência desse afastamento do outro, a acção política manipulatória res¬surge em todo o seu esplen¬dor, através de processos onde o medo e a ignorância – que estão sempre directamente liga¬dos – são socialmente usados sem nenhum tipo de pudor.”
Já aqui tinha referido desta Companhia, “António e Maria”, um exemplar espectáculo através de um monólogo interpretado por uma extraordinária actriz: Maria Rueff! No caso de “A Lição” os adjectivos não se tornarão retum¬bantes, nem a sua repetição can¬sativa. É impensável destacar uma interpretação, mas pegando nas palavras de Seabra retira¬das de uma entrevista à Agenda Cultural de Lisboa, sobre o seu regresso às tábuas como actor, a personagem que interpreta que de alguma forma é o “Mestre de Cerimónias” desta Lição, diz-nos ele: sou “o único actor do mundo careca, coxo, maneta e do Belenenses”. Mas nada disto perturba o seu Professor. Antes pelo contrário. Miguel Seabra como actor coloca-se por inteiro e de corpo inteiro à disposição do Professor de Ionesco. Mas tanto Sara Barros, como Elsa Galvão, são exímias nas suas interpre¬tações, tal como Miguel Seabra.
Mais uma vez, como em todas as outras produções do Teatro Meridional, tudo está certo: inter¬pretações, encenação, ilumina¬ção.
Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico