Paisagens & Patrimónios
O Núcleo Museológico da Bemposta
11 de outubro de 2017
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No próximo fim-de-semana realiza-se, uma vez mais, a Festa do Vinho e das Vindimas em Bucelas. Este evento é sem dúvida um dos momentos altos da freguesia onde o desfile etnográfico ocupa um papel central na tarde de domingo, exibindo um conjunto de carros alegóricos alusivos às várias fases de produção do vinho, desde a vinha à taberna. No cortejo o visitante pode igualmente observar algumas das profissões tradicionais associadas à produção do vinho como os cesteiros e os tanoeiros. Mas, o que gostaria aqui de salientar é a atuação da população que ao longo de um ano prepara este acontecimento, o que implica muito mais do que a sua participação no desfile, juntando várias gerações que com o seu empenho e alegria conferem a este momento uma dinâmica que anima todos aqueles que assistem.
Com efeito, a Festa da Vinho e o Vinho de Bucelas atrai muitas pessoas de várias partes do concelho e fora dele, as ruas enchem-se de gente não só para o desfile, mas para viverem um ambiente festivo, onde a gastronomia, a música, as exposições, o artesanato oferecem um programa muito diversificado. A organização desta celebração deve-se às várias associações da freguesia que juntamente com a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal de Loures congregam sinergias em torno de um propósito comum. Todo este trabalho, onde o movimento associativo se empenha de um modo muito particular, acaba por ser também uma forma de representação das tradições da comunidade, uma ação de patrimonialização.
Uma das associações que tem desenvolvido um trabalho de várias décadas dedicado à recolha e representação das tradições da sua terra e das suas gentes é o Grupo Musical e Recreativo da Bemposta, que celebra este ano, em 2017, cinquenta anos da existência do seu Rancho de Folclore e Etnografia “Os Ceifeiros da Bemposta”. Inserido nas comemorações publicaram um livro “50 anos de Os Ceifeiros da Bemposta. Memórias de um Povo, 1967-2017”, obra que reúne uma vasta documentação sobre a história deste rancho, atestando a sua intensa atividade e preocupação com a recolha patrimonial, base de fundamentação dos trajes, das músicas e danças.
Um dos efeitos desse trabalho de patrimonialização foi a criação de o Núcleo Museológico Luís Serra, instituído na sede da associação, local onde se reúne um acervo etnográfico relacionado com o quotidiano desta comunidade rural, onde se destaca um carro de bois, uma imensa coleção de utensílios de cozinha, traje e outros objetos relacionados com o amanho da terra, bem como das profissões tradicionais como seja o ferreiro. Efetivamente, este acervo representa um trabalho da comunidade muito interessante de recolha, tratamento e representação, que deste modo procura preservar a sua memória. Convém salientar que as recolhas dos objetos, das memórias e dos gestos, possibilitaram a organização de um núcleo de documentação valiosa para os estudiosos que se interessem por estes temas.
Regressando ao rancho, polo que despoletou a constituição do acervo e a necessidade de criar uma exposição, este começou por ser um grupo que participou nas Marchas de Lisboa, conseguindo em 1954 obter um segundo lugar e um êxito com a sua canção, fato que podemos conferir na revista Portugal Ilustrado de agosto desse mesmo ano. Será esta experiência que irá levar à criação do rancho folclórico que no seu início usou indumentária semelhante à das marchas sem preocupação etnográfica. Todavia, no âmbito do seu reconhecimento pelas entidades oficiais, nomeadamente pelo Instituto Nacional para o Aproveitamento dos Tempos Livres (INATEL) e com o intuito de ser federado, este grupo irá promover uma recolha junto da comunidade local de forma a cumprir os requisitos ao nível do traje, música e dança. Será esse longo trabalho que anos depois levará à constituição de um acervo e à criação de um núcleo museológico que hoje podemos visitar.
Apesar de este ano comemorarem 50 anos de existência do seu rancho folclórico, o Grupo Musical e Recreativo da Bemposta (GMRB) é mais antigo, tendo sido fundado em 21 de janeiro de 1951, assumindo como propósito central da sua atividade a dinamização cultural, recreativa e desportiva. Assim, o GMRB apresenta uma dinâmica muito diversificada, e uma capacidade de agregação da comunidade expressa quer no número elevado de associados, quer pelas múltiplas atividades que consegue desenvolver ao longo do ano. Nesta altura de comemorações desta coletividade não podia deixar de referir junto dos leitores desta crónica o magnifico trabalho desenvolvido por este grupo, e deixar aqui, também, o convite para visitarem o núcleo museológico, e estarem atentos à sua programação bastando para isso consultar o respetivo site.