Paisagens e Patrimónios
O Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM)
6 de janeiro de 2019
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É impossível falar de património existente no concelho sem dedicar uma crónica ao importante Arquivo Nacional de Imagens em Movimento (ANIM), equipamento cultural sediado na Quinta da Cerca - localizada nas proximidades da povoação da Chamboeira, na freguesia de Bucelas - pertença da Cinemateca Portuguesa.
Essa quinta é uma propriedade com 18 hectares que oferece as condições de segurança essenciais a este tipo de arquivo, onde além de uma área destinada ao armazenamento das coleções (cofres climatizados), também existem diversas zonas consagradas ao trabalho de catalogação, arquivamento e investigação.
Convém destacar que o arquivo em questão conserva a maior coleção nacional de imagens em movimento, produzidas desde os primeiros anos do cinema, tendo a seu cargo não só a missão de conservação de tão importante espólio, como também o propósito de assegurar o respetivo inventário e tratamento, condição essencial para a sua disponibilização.
As coleções de imagens em movimento da Cinemateca podem ser visionadas por estudiosos que estejam a desenvolver investigações universitárias ou equivalentes, devidamente credenciados.
A necessidade de desenvolver ações concertadas para a preservação deste tipo de registos foi precocemente identificada pelo polaco Boleslaw Matuszewki, pioneiro do cinema e do filme documental que, pouco tempo depois da exibição pública dos filmes dos irmãos Lumière, chamou a atenção para a necessidade de se criarem instituições para esse efeito. Num manifesto publicado nos finais do século XIX, Matuszewki salienta o valor histórico e documental dos filmes e a necessidade da sua preservação.
Mas será somente após a 1ª Grande Guerra que essa urgência se tornará mais evidente à medida que a indústria do cinema se foi expandindo, originando o aparecimento de um cinema como entretenimento industrial de massas. Essa indústria cinematográfica nem sempre se preocupou com a conservação daquilo que produziu, circunstância agravada pela extrema fragilidade dos suportes fílmicos então usados.
A consciência social crescente da relevância dos filmes não só como arte, mas também como documento, elemento de memória, e consequentemente da necessidade da implementação de medidas que conduzissem à sua salvaguarda, levou ao surgimento de várias cinematecas, e à criação de uma entidade internacional dedicada à recolha e preservação de filmes, onde o arquivo se assume como uma instituição/ação fundamental.
Assim, surge em 1930 a Federação Internacional de Arquivos de Filmes (FIAF). Este movimento em defesa da preservação das imagens em movimento e de toda a sua história foi finalmente reconhecido a nível mundial em 1980, quando a UNESCO proclamou a sua importância, através do documento “Recomendação para a Proteção e Preservação de Imagens em Movimento”, como uma das ações essenciais para a salvaguarda, estudo e divulgação deste património cultural.
Foi neste contexto que surgiu em Portugal, em 1948, a Cinemateca Nacional, como se designava na época, integrada nos serviços do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN). O início oficial da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema apenas se concretizou em 1956, altura em que ficaram concluídos os primeiros depósitos fílmicos, e em que esta instituição portuguesa foi igualmente aceite pela Federação Internacional de Arquivos de Filmes.
Somente mais tarde, em 1996, será materializado um Arquivo Nacional da Imagem em Movimento, com a criação do ANIM, visando ser um centro de conservação que permite assegurar de forma sistemática ações de prospeção, depósito, catalogação, conservação, preservação, restauro, investigação e acesso público às coleções do material cinematográfico.
Atualmente a Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema é uma instituição pública que conserva o património cinematográfico que inclui as imagens em movimento, mas também todo o património museográfico relacionado com a produção e circulação do grande espetáculo e da Sétima Arte, que é o cinema.
É uma entidade com três unidades distintas: a sede onde está o departamento da exposição permanente, na rua Barata Salgueiro, em Lisboa; a cinemateca Júnior inaugurada em 2007 no Palácio Foz, também em Lisboa; e o ANIM, o arquivo nacional localizado no concelho de Loures. Na capital, a Cinemateca é um organismo extremamente importante na programação cultural da cidade, apresentando constantemente retrospetivas, as mais diversas, que permitem um conhecimento da história do cinema, uma arte e uma indústria que revolucionou a nossa maneira de ver e de sentir o mundo, a partir sobretudo do século XX. Hoje em dia, os estudos cinematográficos têm lugar nas universidades de todo o mundo, surgindo constantemente autores que ficarão, por certo, entre os grandes criadores do nosso tempo, época da imagem por excelência.