Mel de Cicuta
Sem snobismos
6 de novembro de 2020
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A sociedade portuguesa «confunde elite com elitismo» afirma António Saiote, numa grande entrevista a este jornal… Assim é. Não é só em Portugal, também acontece no Brasil em certo sentido…porque será? Mas não acontece em muitos países do mundo. Na verdade, em muitos poucos.
As elites, aqueles que são bons, ou muito bons não têm de ser elitistas. Fazem parte da elite, mas podem viver sem snobismos, sem serem parvos, isto digo eu.
A nossa sociedade ainda está a várias velocidades, os que vivem na monarquia, os que vivem no Estado Novo e os que vivem em liberdade de direitos e em igualdade de oportunidades.
É assim. Mas vai mudar. Vai mesmo mudar. As novas elites trazem outro ADN e devagar, homens como José Neves da Farfetch, homens como Miguel Oliveira da Moto GP, ou Cristiano Ronaldo, homens como o maestro António Saiote, por exemplo, formam uma nova elite e vão mudar isto. Vêm de «castas» diferentes e pautam a sua vida por uma bitola: a de serem de excelência naquilo que fazem. Fazem por amor, fazem com talento e com muito, mas muito trabalho.
Saiote fala-nos ainda de uma promessa que lhe foi feita pelo executivo camarário, a de fazer em Loures um auditório condigno para espetáculos multiusos.
Já tive oportunidade de falar sobre isto a quem manda de forma informal, já tive oportunidade de o escrever neste jornal, mas vou falar de novo.
António Lobo Antunes afirma que «a cultura assusta muito. É uma coisa apavorante para os ditadores. Um povo que lê nunca será um povo de escravos». Esse mesmo povo que ler, se for a espetáculos, a exposições, a partilhas de informação, vai forçando a perda dos snobismos, das elites que se acham superiores e que julgam dominar e controlar toda a atividade social, cultural e política.
George Steiner, um homem da elite (desconheço se é elitista) afirma num livro que tem tanto de pequeno na dimensão, como de grande na dimensão intelectual, define 5 pilares da construção da sociedade europeia. Vou destacar dois.
A Europa é o continente do mundo com mais cultura de café. Onde as pessoas de diferentes interesses se sentam à mesa do café e partilham a informação debatendo-a de forma livre. Outro pilar que destaco é o facto de a Europa ser o único continente que se faz a pé, hoje de carro e, desta forma, as pessoas convivem entre si e partilham a informação, há séculos. Estes dois pilares, estão hoje cortados pelo COVID e esmagados pela falsa sensação de partilha e de pertença das redes sociais.
Quanto ao COVID espero que todos percebamos que quanto mais rápido voltarmos a ter uma vida normal melhor é. Prefiro morrer a usar máscara a vida toda. Quanto às redes sociais, temos de ir percebendo e ensinando os nossos filhos que não há nada como viajar, ir ao café e abraçar as pessoas de verdade, para que não se deixem levar por aquilo que as elites elitistas nos querem conduzir.
Esses tempos vão voltar.
PS: Este artigo é estupidamente escrito com o novo acordo ortográfico.