Mel de Cicuta
Os vendedores de senhas
4 de junho de 2019
Partilhar
Há muitos critérios para avaliar o estado do sítio onde vivemos. Mortalidade infantil, saúde e educação, PIB per capita, esperança média de vida, entre muitos outros.
Não me vou alongar na abstenção. Perto de 70 % do país disse não às europeias, renunciou ao seu direito de voto. Algo pelo que muitas pessoas morreram no passado. Apesar de tudo Loures só teve cerca de 60% de abstenção, menos 10% que o país.
Lincoln está desatualizado, ele afirmava que «um boletim de voto tem mais força que um tiro de espingarda.», já não tem.
Os sintomas estão lá há muito tempo. A doença alastra, os agentes do estado fecham os olhos. Acreditem, a coisa não vai acabar bem. É impossível. Os ciclos históricos mostram-no e a tendência é a óbvia.
O fim do sistema democrático tal como o conhecemos.
Não preconizo a desgraça, apenas quero identificar o óbvio. Até porque não tenho poderes de vidente.
O mini sintoma em que eu queria colocar o foco é numa coisa tão simples como o cartão do cidadão. Naquilo que se chama a total falta de respeito por nós. Na incapacidade do Estado de dar resposta ao mais elementar documento físico da cidadania. O cartão de cidadão. Marcações com meses de distância, filas imensuráveis para pedir novos ou renovações, e filas grandes, de várias horas, para simplesmente o levantar. Já era assim na saúde, nas cirurgias, não há vagas suficientes na universidade públicas para todos, mas agora até no que é elementar.
Cria-se em Portugal uma nova profissão, os vendedores de senhas.
Como podemos respeitar quem não nos respeita?
Como pode haver apelos mágicos ao voto eficaz da parte daqueles que nos representam? E por favopr, parem co9m isso de apreender carros. É demais!
Muitas melhorias houve, naturalmente, historicamente, mas não podemos permitir que isto seja em rebuliço, com avanços e recuos sistémicos e traumáticos.
Por favor sentem-se à mesa e organizem-se, caso contrário, depois, não se queixem.
Das europeias uma nota, vitória clara do PS no país, e em Loures também. No país só não ganhou em Vila Real e no Funchal, em Loures ganhou em todas as freguesias somando 37% dos votos, a milhas do segundo partido mais votado, o PSD com 13,5% dos votos e com uma queda abrupta da CDU de 23,5% em 2014 para 12,7%, em Loures, embora tenha mantido os dois deputados europeus.
Extrapolar para legislativas ou para autárquicas é sempre complexo e não é adequado, mas é certo que os sorrisos estão no Largo do Rato e na sede do Bloco. Nas outras sedes todos deverão estar menos sorridentes.
O tamanho do boletim de voto, e a disseminação de votos são também um elemento a considerar. Resta saber se os «novos» partidos trazem algo de novo ou apenas sub discursos reciclados. Para já só o PAN merece destaque, afirma-se nos parlamentos, depois de Lisboa, Bruxelas, uma surpresa, para quem não anda atento.
Em suma, e parafraseando com algum dramatismo Saramago, «O que chamamos democracia começa a assemelhar-se tristemente ao pano solene que cobre a urna onde já está apodrecendo o cadáver. Reinventemos, pois, a democracia antes que seja demasiado tarde».
PS1: Uma palavra de apreço à família e amigos de Simenta Mordido, autarca socialista que exerceu as funções de Presidente de Câmara, Presidente de Junta de Moscavide e da Associação Humanitária de Bombeiros Voluntários de Moscavide e Portela, que nos deixou no passado dia 25 de maio. Bem haja.
PS2: Este artigo é estupidamente escrito com o novo acordo ortográfico.