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Cristina Fialho – Chefe de redação
Cristina Fialho
Chefe de redação

Editorial

Tu também vais perder alguém para a COVID

5 de fevereiro de 2021
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Da primeira vez que me senti verdadeiramente patriota e parte de um movimento coletivo de amor a Portugal foi no Euro 2004.

É triste, eu sei.

Quando andava na primária os meus colegas às vezes iam aos comícios com os pais e voltavam a gritar “Pê-ésse-dê” ou “Cê-dê-ésse” nos tempos idos do Cavaquismo dos 90 ‘s. As cores que usávamos eram, irritantemente atribuídas a equipas de futebol, mal de mim ter de andar sempre de encarnado, verde ou azul que eram as cores que a minha mãe aprovava por cima das golinhas pipis.

Nunca fui dada a fanatismos, nunca fui mega fã de uma banda, livro ou filme.

Em 1998 fomos palco de uma exposição mundial, não tirei o partido que podia, fui mais à noite, aos bares, a proximidade de casa prometia uma maior liberdade para curtir em segurança e o cartaz musical era fabuloso. (Adorei Foo Fighters, Garbage foi lindoooo!)

Mas em 2004 o Mundial de futebol!!!

O Scolari pediu as bandeiras nas varandas, “não bateu no minino”...

Arrepiava-me sempre que ouvia o hino. Sofremos até ao último segundo. Sabíamos o nome de todos os jogadores do plantel, o Ricardo à baliza, o Rui Costa, o Deco, o Simão e o Pauleta… o Cristiano Ronaldo ainda usava o 17. Tínhamos O FIGOOOO! Organizámo-nos em volta de ecrãs, não falhámos à equipa que estava a lutar pelo nosso título europeu. Houve até quem rezasse por eles, vejam bem… nunca perdemos a esperança. Chegámos à final… morremos na praia. O que é que falhou? Tínhamos o FIGO?!

A frustração foi imensa, a perda foi coletiva, lembro-me de ouvir “não ganhámos” como se todos, em espírito, estivessemos naquele campo, a correr, a lutar pela taça… só eu sei os nervos quando o Ricardo sai da baliza para marcar aquele penalti!!

E a vida de ninguém dependia daquele campeonato.

NINGUÉM morria se não ganhássemos.

E a Covid?

Pusemos arco-íris nas janelas, batemos palmas às 21h, cantamos o hino, será que não estamos a rezar pela nossa equipa que está a lutar por nós? Não estamos a prestar atenção ao “jogo”? Perdemos a esperança? Já chegámos à final? Onde estamos a falhar?

Os médicos, enfermeiros, bombeiros, etc. estão exaustos, mas como não aparecem na TV é como se não existissem. Os auxiliares são invisíveis e correm o risco de contaminar as suas famílias. Todos os dias.

Aproveito para mencionar que não vivem de ordenados milionários depois de uma vida de estudo absurdamente intensa para um país que se orgulha de médias altíssimas para entrar em medicina, não dá equivalências a médicos estrangeiros e agora vai buscar profissionais à Alemanha.

Há festas clandestinas que aparecem nas redes sociais de miudinhas modelos de passerelles e PSPs… a modelo é só mesmo manequim porque não serve de modelo para mais nada, o PSP deve ser de “Polícia Só Parvo” por para a Segurança Pública não lhe rendeu a insígnia.

Estamos cansados de estar em casa, outros querem ir para casa. Estamos mesmo a normalizar a morte por covid? Precisamos de um Scolari para nos dizer o que fazer?

Da próxima vez que quiseres sair de casa pensa: quem do teu círculo próximo, estás disposto a perder para a Covid?

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