Editorial
Entre o "já foi" e o “ainda não é”
6 de novembro de 2021
Partilhar
Gosto muito de frases feitas, provérbios e chavões.
Dão-me jeito para remendar os buracos da vida e da linguagem quando não sei o que dizer ou quando não sei o que sentir.
Há que costurar os pedaços entre o que “já foi” e o que “ainda não é” e esses vazios preenchem-se com estas pérolas linguísticas.
Um movimento coletivo de “vai ficar tudo bem” quando claramente, não fazíamos puto de ideia do que lá vinha e não, ainda não está tudo bem…
“O dia em que plantas a semente não é o dia em que colhes o fruto” também repito para mim mesma para me consolar quando os contratempos me atrasam os planos.
A cada falhanço, apregoo que “a única coisa constante é a mudança”, e quando a frustração aperta à séria lá vem a intervenção divina em que me convenço que “Deus tem um plano melhor para mim”.
E assim, há uns quantos medidores mais ou menos literários que me vão orientando numa ou noutra situação, quase automática, pela minha própria memória de provérbios e frases feitas. Vejo alguém a pedir algo (seja mendigo, escuteiros, bombeiros, em nome de uma causa): “quem ajuda, Deus ajuda”, seniores a conduzir super devagar que até irrita: “dá mais tempo a quem precisa”, e por aí adiante num (por vezes) modo automático.
Funcionam também como “paninhos quentes” para acalmar ansiedades, para esperar entre tempos, para resignações, para fortalecer a resiliência, para nos lembrarmos que “também isto passará”.
A linguagem é a linha que coze os nossos pensamentos e determina a maneira como nos ligamos com o que sentimos e com o que acontece à nossa volta. Temos de dar pontos firmes. Falar bem connosco próprios, procurar ajuda (a psicoterapia não é só para falar, também nos ensina a pensar) e sobretudo, pára de estar em stand by entre o "já foi" e o “ainda não é”.