Joana Leitão
Obrigada Mãe
8 de maio de 2018
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Mãe, estou atrapalhada para dizer o que sinto. O meu pensamento continua turvo e ainda estou a percorrer este caminho, só não posso deixar nada por dizer nem nada por fazer, isso não posso. É que deixarmos para depois é sempre um risco e eu não pretendo corrê-lo.
Quando há dois ou três meses disse ao Pedro que gostava de fazer uma homenagem à minha mãe em maio, ele sorriu, talvez pelo facto de, também ele, ser da matéria de que são feitos os sonhos, que agora estão para lá das estrelas.
Nessa altura, conversámos sobre as nossas mães e referimos qualidades que comprovavam que ambas são seres realmente humanos. Confesso que, por dentro, era difícil para mim acreditar que outra mãe pudesse ser tão especial como a minha mas, uma vez que das nossas conversas resultavam sempre posições legítimas e verdadeiras, fiquei a pensar.
Afinal, que motivo podia levar qualquer pessoa a considerar que a sua mãe ocupa o primeiro lugar, quando comparada com todas as outras? Foi quando me apercebi de que as mães têm dentro de si um espaço de maior tamanho reservado aos filhos, onde cabe uma entrega maior, o melhor de si e tudo o que é grande, porque a dimensão é mesmo maior e essa é a razão por que os mesmos só as podem ver assim. É por isso que gosto tanto da minha mãe e o Pedro diria o mesmo à sua.
São tão boas as relações genuínas entre pais e filhos, nós tivemos sorte. Não há nada mais triste do que ver pais que têm outras prioridades que não os filhos e filhos que têm mais do que fazer do que aturar os pais, embora saiba que há quem seja abandonado dentro de casa e quem, sem ter vivido isso, deixe de aparecer.
Dizem que escolhemos a família com quem iremos fazer este percurso e, se assim for, acertei. A maternidade não foi apenas uma experiência e não podia ter escolhido outra mãe. Não a identifico apenas pelo percurso profissional mas, essencialmente, pelo que é, enquanto mãe e ser humano. Admiro, particularmente, a sua capacidade de superação, de reinvenção e de dar a volta ao destino, até na saúde e, só lhe peço que continue a fazê-lo.
Ser-lhe-ei sempre grata pela vida, pelos ensinamentos e pelo amor incondicional. Ensinou-me a colocar-me nos sapatos dos outros, a ter compaixão e a não desistir, quando me disse para ir atrás dos sonhos. Nunca guardou elogios, tal como não guardou metafóricos puxões de orelha, daqueles que fazem crescer. Também me ensinou a amar e isso, é um privilégio, não sei se de todos. E a agradecer também, embora hoje saiba fazê-lo melhor. A insatisfação deu lugar à gratidão e o desencanto ao brilho que trago nos olhos. Hoje sei que só vemos beleza quando temos o coração aberto. E desperto.
Quando na adolescência lhe enviei o poema de Eugénio de Andrade, queria mostrar-lhe que cresci e que precisava de aprender a voar. Porque os filhos pertencem ao mundo. E quando aprendemos coisas não as guardamos para nós, partilhamos.
Ao contrário de outras alturas em que cedi ao supérfluo, no dia da mãe só tenho o meu abraço, a minha companhia e este jornal. Parece que comecei a ver o vazio das coisas e a entender melhor o que vai muito além delas. Sei hoje, que não controlamos nada e que só temos que estar atentos àquilo que a vida nos dá. Sei que nada nem ninguém nos pertence e que amar significa deixar voar, porque só assim podemos ser quem realmente somos.
Às mães que viajaram para locais distantes da terra
A crença de que nos voltamos a reencontrar pode ajudar-nos a aceitar e a conviver, um dia, com a distância. Talvez não fizesse sentido ser de outra forma.
“Basta (ri-te) "acredimaginares" que tirei a carta e não sou a tal distraída. E podemos ir até à praia das Maçãs, à praia Grande, à Adraga... a todas as praias, à vila de Sintra e, já agora, a São Pedro de Sintra ao pinhal. Só as duas era tão mais fácil dizer-te "vamos, sempre gostei de sair contigo, não sei como te esqueceste". Eram como cerejas os temas de conversa. E podíamos olhar para este lugar que tanto nos fascinava, vindas de épocas diferentes. Quando nos calamos, Sintra tem a incrível capacidade de permitir às sombras coexistirem com o sol.
Em pequena estava habituada a não te dividir com mais ninguém. Numa noite, fomos jantar fora porque ia provar algo "único". Vieram os batidos de ananás para a mesa e, eu já sabia que era algo especial mas, quando provei, era mesmo fantástico, tão gelado e sabia tão bem, o melhor batido de ananás da minha vida.
Voltemos a "acredimaginar" que não há errado ou certo. Que as nossas vidas coexistem entre elas como as sombras e o sol de Sintra. Qual seria o verdadeiro passeio? Onde gostavas mesmo de ir? Acredito que um dia te farei esta mesma pergunta, de novo.”
Raquel Vasconcelos, 49 anos, Lisboa
“Se no dia da mãe aqui tivesse a minha, em primeiro lugar dava-lhe um grande abraço e muitos beijinhos, depois, partindo do pressuposto e da certeza que, todo este tempo, ela me esteve a acompanhar, apenas queria saber como é que ela estava, que conselhos tinha para me dar, se estava orgulhosa de mim, o que achava dos netos, com quem os achava parecidos, se estavam muito malcriados, porque tudo o resto é minha convicção que ela sabe...”
Bárbara Silva, 41 anos, Porto