#vamostodosficarbem
Covid 19 vs Educação
5 de abril de 2020
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Para além das questões da economia, onde pequenas, médias e algumas grandes empresas, e o pequeno comércio, que ameaçam falência e consequentes despedimentos, o Governo, mas acima de tudo a Europa, têm de, em conjunto, mostrar que somos uma verdadeira Comunidade e uma verdadeira Europa solidária no combate a um flagelo que nos ameaça de uma forma violenta. Mas existem outras questões associadas a esta pandemia, que devem captar a nossa atenção.
Por força da pandemia, Portugal, tal 107 outros países por essa Europa fora, encerraram os seus estabelecimentos educativos, de todos os graus de ensino. Mais de dois milhões de crianças e jovens, desde a creche ao ensino superior, estão em casa. No mundo, cerca de 850 milhões de crianças e adolescentes estão sem aulas presenciais.
Como referiu o Ministro da Educação: “este é o maior desafio na Europa para os sistemas educativos depois da II Guerra Mundial”. Os alunos foram mandados para casa, mas não para gozo de férias. Essas serão no período da Páscoa e manter-se-ão. A dúvida que persiste será quando se retomarão as atividades letivas presenciais.
E estando em casa, mas não estando de férias, como se promoverá o ensino/aprendizagem é a grande questão. O Ministério da Educação e os Diretores das Escolas deram indicações precisas para os professores lecionarem à distância, o que era natural, dado ser necessário substituir as aulas presenciais por aulas online.
No entanto, é prioritário estabelecer-se mecanismos não presenciais que possam garantir, ainda que de forma frágil, o contacto entre professores e alunos. Esta situação do ensino à distância, a fazer lembrar a telescola, pode potenciar ainda mais, algumas das desigualdades sociais que sempre se sentiram no nosso sistema educativo. E porquê? Porque existem muitas famílias com enormes dificuldades económicas, ainda mais acentuadas pelo momento presente, que não têm possibilidade de fornecer ao seu filho ou educando um computador (uma em cada cinco crianças não tem computador) e são várias que ainda não dispõem de internet ilimitada em casa (5% de famílias com crianças até aos 15 anos não têm internet).
E os encarregados de educação que não têm, nem condições em casa, nem formação para ajudar os seus educandos no estudo e nos trabalhos que têm de fazer? As escolas têm de conseguir identificar os alunos que, nesta fase, apresentam maior risco de exclusão social, e que por não terem condições, participam pouco ou não participam nas atividades propostas. As escolas, que identificarem estes casos, devem recorrer à colaboração do Programa Escola Segura e/ou aos CTT para que estes alunos possam receber e entregar as fichas de apoio e os trabalhos que por elas serão enviados. Todos os estabelecimentos de ensino devem manter um contacto diário com os alunos. Esse contacto é fundamental entre os alunos, os colegas e os professores, no sentido de se consolidarem as aprendizagens já adquiridas e se desenvolverem novas aprendizagens.
A Porto Editora, não querendo fazer qualquer tipo de publicidade, tem uma aplicação, a Escola Virtual, disponibilizada nesta altura de forma gratuita, que poderá ser uma plataforma e-learning de grande utilidade para todos os alunos do 1º ao 12º anos de escolaridade. Os professores, também com acesso gratuito, podem organizar as aulas e demais atividades que entendam. Como já referi antes, os alunos e os professores não estão em gozo de férias, e os alunos devem assumir que, tal como os seus pais, estão em teletrabalho.
O sucesso deste ano letivo, mesmo que em moldes completamente diferentes, depende da forma como todos, Ministério, professores, pais e alunos encaramos os próximos meses e o trabalho que temos de fazer no dia a dia. Como refere o Diretor Geral da Unesco, Andrey Azoulay, “isto implica desafios imensos para poder proporcionar uma aprendizagem ininterrupta a todas as crianças e jovens de forma equitativa”. Não vai ser fácil. Os próximos tempos não serão nada fáceis para ninguém, não só em Portugal, mas em todo o Mundo mas estou convicto que no fim sairemos mais fortes enquanto homens e enquanto sociedade.
João Pedro Domingues
Professor