Das Notícias e do Direito
Igual, Igual, ou nem por isso!
5 de julho de 2020
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Que a igualdade de género é um bem em si mesmo, parece-me indiscutível.
Somos informados com regularidade das assimetrias de género no nosso país e isto ainda nos surpreende.
Sabemos que, em média, as mulheres ganham menos que os homens, trabalham mais horas, sim, porque chegadas a casa pegam no segundo emprego. Assumem, frequentemente o papel de cuidadoras dos familiares doentes ou envelhecidos e são, muitas, as responsáveis pelos cuidados aos filhos.
E tudo isto com o esforço e o empenho de se cuidarem, frequentarem o ginásio, arranjar as unhas, retocar raízes, and so on and on, sim porque a liberdade, emancipação e iniciativa sexuais já são benquistas no plano das relações amorosas.
Enquanto isso, esforçam-se por educar os filhos na igualdade de género, explicando que não há diferenças.
Porém, assistimos a uma das maiores e mais abonadas entidades deste país, a Federação Portuguesa de Futebol a propor um teto salarial para o desporto feminino.
Estrondo, espanto, escândalo????
Nada disso, uma noticiazita ou outra. Um aparente recuo e tudo caiu entre os pingos da chuva, sem notas ou comentários dignos de remoque.
Todavia, andamos todos encantados a recordar as feministas de outrora, a luta pela igualdade, as dificuldades do empreendedorismo feminino.
A HBO e a Netflix têm exemplos afamados disto mesmo e transcontinentais.
De Gloria Steinem, no “Mrs. America”, à Malu de “A Coisa Mais Linda”, vemos as mulheres a pugnarem e esforçarem-se pela igualdade, pelo direito à iniciativa económica, a criação de um negócio, o entrar em profissões ditas masculinas.
Há décadas que o esforço da educação para a igualdade existe. Que crianças deste país são educadas na e para a igualdade. Não inibimos as nossas meninas de brincar com carros ou pretender profissões ditas masculinas. Os nossos rapazes fazem tarefas domésticas e não são criados como pequenos reizinhos.
As instituições aprenderam a lidar com os dois mundos. Há pouco mais de 30 anos havia universidades com pavilhões sem wc feminino, até que as raparigas passaram a entrar para as Engenharias, Mecânica por exemplo.
Temos, então, a FPF a pretender fixar um teto máximo para o futebol feminino. Porquê?
Inexiste uma explicação séria, fundada e plausível.
De atletas a atrizes, todas clamam ganhar menos que os colegas homens em situação idêntica.
Choca-nos que numa qualquer fábrica a operária ganhe menos que o operário, e lá levantamos a voz para o trabalho igual, salário igual.
Fala-se no futebol feminino e o silêncio foi quase uma constante.
Que país é este?
Temos leis com sistemas de quotas mínimas obrigatórias de homens e mulheres, nomeadamente para candidaturas a cargos públicos.
Apresentamos com fervor e orgulho mulheres que alcançam reconhecimento público e granjeiam admiração internacional.
Aguardamos com expectativa por um prémio Nobel, nas Ciências e para uma Mulher…
Mas, grandes instituições ponderam plafonar no máximo a remuneração de atletas femininas e a sociedade não se levantou!
Com franqueza. Não podemos admitir ou compactuar com estes comportamentos.
Preconceito, discriminação persistem. Querer fixar um teto máximo, escolhendo apenas modalidade feminina é isso mesmo.
Volvidos mais de vinte anos e Portugal continua a ser, para alguns, a coutada do macho ibérico.
E não é porque o tema desapareceu que não vai voltar, ou deixa de merecer uma discussão séria e responsável.
Caramba, grow up, man up e tenham vergonha.
Alexandra Bordalo Gonçalves
Advogada