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Opinião
Alexandra Bordalo – Advogada
Alexandra Bordalo
Advogada

Das Notícias e do Direito

Da proclamação da igualdade ou da misoginia encapotada

3 de março de 2025
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Em Março celebra-se o Dia da Mulher.
Falamos diariamente da igualdade de direitos, do acesso à educação, ao trabalho, aos cargos políticos, de topo, etc.
No entanto, persiste e permanece de forma mais ou menos escusa a misoginia.
Trata-se de um termo com origem grega e que significa ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres ou meninas.
Não tem de ser um ódio visceral, mas o preconceito e o desprezo imperam.
Como?
Na hora de recrutar o selecionado é do sexo masculino.
Na hora de preferir, qual o melhor trabalhador, o que se senta à mesa do Chefe, lá vai o do sexo masculino.
Se for Mulher, fala-se da roupa, da maquilhagem, se é bonita ou feia.
De um homem, candidato a cargo, emprego ou a uma qualquer eleição não se lhe comentam os atributos físicos, a marca da roupa ou o gosto pelos trapos.
Se é mulher, comentam-se as pernas, o decote, o cabelo, as unhas.
Se o traje é curto ou o decote generoso, anda à procura, é oferecida e comenta-se-lhe a sexualidade.
Se usa, habitualmente, gola alta, calças e roupa dita mais masculina, ou é frigida ou é lésbica.
Se sofre de violência doméstica, alguma coisa deve ter feito. Ou é uma porca que não trata de casa, ou uma preguiçosa que não cozinha ou gosta de se mostrar à vizinhança.
Ainda se educam rapazes e raparigas de forma diferente, o que se não compreende.
Quando há pouco anos atrás um acórdão, sobre um processo de violência doméstica, decidiu tecer comentários vários sobre a vítima, fê-lo de forma misógina. Como? Diminuiu a vítima, epitetando-lhe comportamentos e actos justificativos da violência doméstica.
Tipo: toma lá um correctivo.
Recordei-me nessa altura, em conversa com uma filha adolescente, de um acórdão, do tempo do meu estágio se bem me recordo. Acórdão esse, que usou da superior sapiência para designar quão incautas foram duas jovens estrangeiras, vitimas de violação, ao entrar na coutada do macho ibérico, onde a possibilidade da violação era só um acto de caça!
Não passou assim tanto tempo!
Nunca vi comentar a gravata do José Socrates, o fato do Presidente, a camisa do Passos Coelho ou os sapatos do Ventura, ou de qualquer outro para dizer a verdade.
Todavia, se é Mulher, o que aí vem…
E assim, vamos celebrar mais um Dia da Mulher, com os preconceitos do costume.
Se é bonita, se é gostosa, se tem ou não gosto, se se arranja e o que gosta na cama.
À descarada ou de forma velada, é o que assistimos.
Gosto de pensar que qualquer dia destes, será diferente.
Que uma menina, uma jovem ou uma mulher, poderão andar e estar seguras onde quer que seja.
Que a meritocracia imperará, bem como o respeito!
Almejemos!

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