Das Notícias e do Direito
A propósito de Gratidão e Dignidade
7 de novembro de 2020
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Novembro inicia com o «Dia do Pão por Deus», tradição caída em desuso mas que recorda o ato da oferta, a alegria das crianças, e os frutos da época, castanhas, figos e nozes.
Recorda a peregrinação anual aos cemitérios, rezar pela alma dos nossos que partiram.
A mim, neste tempo peculiar de pandemia e de restrições compreensíveis à nossa liberdade individual, pelo bem maior de todos, recorda-me o quão desvalorizado é o sentimento da gratidão.
Ser grato não é ser graxista, vir com prendinhas, falinhas mansas ou salamaleques.
Sentir gratidão, saber ser grato, é distintivo de integridade, dignidade e é intrinsecamente qualidade de carácter.
Sucede porém, que, cada vez mais, aqueles a quem bem se faz ou fez, conluiam numa espécie de conspiração de estúpidos e à primeira golfada de oxigénio pensam estar a salvo, na ilha que tudo tem, não vendo que a onda maior vem atrás e os vai engolir.
Muitos são aqueles que assim atuam com o Advogado e com a Justiça.
Mal se veem livres do aperto e recuperam toda uma sobranceria ignorante que lhes tolda a visão, se é que alguma vez a tiveram. Assim, tomam decisões, novas decisões, amparados noutras almas dotadas de idêntica clarividência, como se o farol da inteligência os alumiasse, apesar de toda a sua idade adulta ser caracterizada por decisões estúpidas!
Assim, como aviso à navegação, e a mero título exemplificativo deixo algumas das jumentadas atuações destes sapientes iluminados.
Para fugir às dívidas e aos credores passam bens para nome dos filhos.
Muito bem, se os filhos são menores e precisam de vender ou alterar algo, sempre têm de ir para tribunal para suprir a autorização do menor.
Se os filhos são maiores podem decidir fazer seus, os bens. Contrair dívidas e ser penhorados, ou, mas não menos importante, precisar de apoios à doença, ao desemprego, etc, e ter meios mais que abundantes para os satisfazer, de acordo com o património que têm registado!
E existem meios legais para os credores impugnarem estas negociatas, em regra mal albardadas, quando congeminadas pelos próprios.
Para que o outro progenitor não aborreça até prescindem de alimentos.
Asneira! Não exigir o cumprimento de deveres não implica que o outro não exerça os direitos. Pior, o que hoje se determina como necessidade dos menores é sempre difícil de alterar no futuro. E ter Pais ou Avós que ajudam, não é garantia de continuidade vitalícia. Até porque estes comportamentos não provêm das pedras da calçada, mas costumam ser habituais na família, logo…
Eu não vejo o meu filho, logo não tenho de pagar.
Pois, e o filho vive do ar, estuda pelas estrelas, guia-se pelas nuvens e subsiste do vento. Nada disto é razão para se furtar ao cumprimento. Se não vê o filho porque o outro progenitor exerce alienação parental, invoque o incumprimento, exija o direito de visita, mas não use desculpas de mau pagador. No final, vai pagar e paga mais, com juros e despesas.
Não faço partilhas e assim não tenho nada em meu nome.
Outra deliciosa opinião. Tem o direito ao quinhão hereditário. Vão espreitar o número de quinhões e meações que estão à venda no portal dos leilões e logo lhes passam as peneiras sobre ter «em nome»!
Pretender pagar alimentos em cartão de débito carregável.
Esta, então, é delirante. Pretendem pagar a pensão carregando um cartão, controlando onde e quando são feitos os débitos! Tipo Big Brother (não o da TV mas o do Orwel) das despesas e voltas do outro progenitor exercendo um doentio controlo à distância.
Se me chateiam meto baixa!
Aqui o extraordinário começa pelos Médicos que o fazem. Mas saibam que há inspeções da Segurança Social, que as falsas declarações constituem crime, e que isto é justa causa de despedimento.
Pois bem, o travesseiro pode ser bom conselheiro, mas não consta que tenha andado na Faculdade de Direito, que leia o Diário da República ou saiba consultar um Código.
Aceite, assim, o conselho de consultar um Advogado, em vez de burricar por sua conta e risco.
E seja grato. Sempre lhe trará paz de espírito, tranquilidade, self-respect e acima de tudo dignidade.
A quem ainda se surpreende com a ingratidão?
Let it be, trauteie os Beatles, siga a vida e faça saquinhos para o «Pão por Deus» dos seus.
Afinal a vida são 2 dias, andaremos de máscaras bem mais que três e deixemos os poucochinhos entregues a si próprios.
Magustemos neste mês, com saúde e prudência, ah e de máscara por favor!