Incêndio Prior Velho
Relatório da Discórdia
11 de dezembro de 2024
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Um dos mais mediáticos incêndios recentes, ocorrido no parque de estacionamento do Prior Velho, continua a gerar controvérsia. O relatório de peritagem realizado pelo INEGI – Instituto de Ciência e Inovação, em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial revelou detalhes que contrariam versões iniciais e apontam falhas em várias frentes.
A origem do incêndio
Contrariando informações iniciais que sugeriam um carro elétrico como o responsável, o relatório conclui que o incêndio teve início num veículo Mercedes-Benz com 446.950 km registados no odómetro. Segundo o relatório, a causa mais provável foi uma falha no relé do motor de arranque.
Outro ponto destacado foi a falta da chave do veículo no momento em que este foi armazenado, impossibilitando a sua remoção da rampa do parque de estacionamento e contribuindo para a propagação das chamas.
Condições meteorológicas
As condições meteorológicas agravaram a situação. O dia em questão foi o mais quente do mês, com temperaturas na ordem dos 38 ºC às 17h58 e uma humidade relativa de apenas 20%. Segundo o relatório, estas condições pré-aqueceram os veículos, facilitando a propagação do incêndio. As temperaturas chegaram aos 600 ºC no auge das chamas.
Estratégia dos bombeiros em análise
O relatório também aponta falhas na estratégia de combate ao incêndio por parte dos bombeiros. De acordo com os peritos, a utilização de jatos de água diretamente sobre as chamas acabou por espalhá-las, ao invés de contê-las. Sugere-se que uma abordagem mais eficaz seria resfriar os veículos ainda intactos, reduzindo a sua probabilidade de combustão.
Outro ponto em discussão é a distância entre os veículos. O relatório dos Bombeiros Voluntários de Sacavém alegava que o espaço entre viaturas era inferior a 30 cm, o que dificultou a passagem das mangueiras. No entanto, o relatório de peritagem contradiz esta informação, afirmando que as distâncias eram, em grande parte, superiores a 50 cm.
Adicionalmente, o bloqueio da rampa de acesso ao parque poderia ter sido evitado. O relatório sugere que um ligeiro recuo do último veículo de combate teria permitido a retirada de mais automóveis da zona de risco.
Impactos e indemnizações
O incêndio afetou 232 viaturas, das quais 117 foram declaradas como perdas totais, com prejuízos superiores a 3,6 milhões de euros. Outro ponto crítico foi o uso de apenas 126 litros de agente extintor. O relatório questiona a eficácia da mistura, caso tenham sido usados mais de 3.897 litros de água, o que diluiria o agente e comprometeria o combate às chamas.
Divergências e próximos passos
Os lesados expressaram surpresa com o relatório, destacando a ausência de críticas à gestão do parque de estacionamento Aeroporto Parque, algo que consideram questionável. Já os bombeiros mantêm que as imagens comprovam a proximidade excessiva entre os veículos, que terá dificultado o combate ao incêndio.
Segundo a Câmara Municipal de Loures, a área de cobertura não deveria ser utilizada para estacionamento ou outros fins, recomendando sinalização clara para proibir o acesso a partir do nível da entrada do armazém no segundo piso.
O parque de estacionamento já foi reaberto, mas ainda há questões pendentes. Relatórios do Ministério Público e das seguradoras são aguardados, e as indemnizações aos proprietários dos veículos permanecem uma preocupação central.