Fora do Carreiro
Tenho um sonho!
6 de outubro de 2019
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É coisa já várias vezes enunciada e anunciada. Tenho o sonho de ver a minha cidade natal como uma Cidade a Sério. Uma Cidade vivaz, urbanisticamente qualificada, culturalmente dinâmica, desportivamente activa, socialmente solidária, participativamente democrática.
Não será por isso de estranhar que de tempos a tempos volte a escrever sobre Sacavém, que procure alertar para o vastíssimo conjunto de problemas que há para resolver e para a insuficiência – de cidadãos e autoridades – das respostas que urge encontrar e concretizar. Falta, digo-o incessantemente, uma visão para a Cidade e, consequentemente, uma estratégia. Afinal, que Cidade se quer no presente e, sobretudo, no futuro? Para onde vamos e que caminho teremos de percorrer?
Tudo indica não haver respostas para estas magnas questões. As eleições autárquicas de 1997, marcaram um momento de ruptura com a perspectiva que existia para Sacavém. Então, o PS venceu as eleições e o PCP-PEV perdeu na freguesia. Esperava-se que o voto dos eleitores tivesse significado a recusa do projecto em curso, para a emergência de um outro. Passados longos 22 anos, só se pode concluir que não havia qualquer projecto e que continua a não haver.
A Junta de Freguesia parece ter ficado refém de ser mera oposição quando o PCP-PEV dirige a Câmara Municipal e mero aliado inerte quando o PS foi maioria no Concelho de Loures. Em suma, a governação da freguesia tem estado completamente limitada a gestão corrente, sem proposta, sem visão, sem acção, sem envolvimento dos sacavenenses.
E não faltaram, nem faltam oportunidades de intervir, agir, propor e fazer. É uma pena tal letargia, é um desperdício a perda de tempo, é contraproducente a busca de resultados políticos por mera oposição, que talvez beneficie o interesse particular de alguns, mas prejudica o interesse de todos.
A boa notícia é que se a Junta de Freguesia faz muito pouco por uma Cidade a Sério, outras entidades alguma coisa vão fazendo. Por exemplo a ADAL, Associação de Defesa do Ambiente de Loures, que também se preocupa com o Património do Concelho, desencadeou duas iniciativas com aparente sucesso: 1) Contactou a EPAL e chamou publicamente a atenção daquela empresa para o estado de degradação do Siphão do Alviela.
A EPAL já prometeu fazer uma intervenção requalificadora em breve; 2) Agiu também em defesa do Convento dos Mártires e da Conceição cuja riquíssima azulejaria está praticamente destruída por anos de incúria. Este mês esteve já no Convento um técnico da Direcção Geral do Património Cultural a fazer um levantamento em ordem à possível classificação do imóvel.
Eram iniciativas que a Junta de Freguesia podia bem ter tomado como suas, mas nada fez. São de assinalar também as obras de requalificação de Sacavém de Baixo, articuladas entre a Câmara Municipal de Loures e o Ministério do Ambiente que trazem o maior volume de investimento público feito em Sacavém nos últimos 40 anos e têm em vista acabar com o flagelo das cheias. Tem carácter também muito positivo a abertura do Centro de Atendimento Municipal no antigo Mercado 1º de Maio, que esteve ao completo abandono anos a fio.
Foi uma vez mais a iniciativa municipal que superou a confrangedora falta de iniciativa local. Que se me desculpe qualquer incómodo causado, mas não abandono o sonho.