Fora do Carreiro
Confrangedor
5 de novembro de 2016
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Com grande pena minha, Sacavém ainda não é uma Cidade a sério e, infelizmente, ao actual ritmo e empenho, não o será tão depressa. Não que não tenha os requisitos necessários, não que não tenham havido investimentos de referência que lhe permita ter essa ambição e esse propósito.
A questão é que uma “Cidade a Sério” se configura entre outros aspectos, com 1. Uma ideia de Cidade; 2. A participação activa dos seus habitantes na formulação das políticas e decisões; 3. Uma articulação com sentido entre os Equipamentos e Infraestruturas significativas, a Habitação e o Espaço Público.
Todos estes aspectos, merecem que nos detenhamos sobre eles, mas porque são muito importantes, devem ser tratados à vez. Desta feita, debruçamo-nos sobre o terceiro aspecto antes indicado.
E nesse âmbito, revela-se como tendo enormíssimo impacto na qualidade da Cidade, o trânsito, a circulação viária e pedonal e o estacionamento. Impõe-se reconhecer que muito pouco tem sido feito. Se nos anos 90 foi dado um bom impulso na criação de bolsas e lugares de estacionamento e, mais recentemente, no âmbito das obras da Avenida Estado da Indía com a construção de um parque de estacionamento enterrado, o certo é que nada mais foi feito, até este ano, com a construção da nova ponte sobre o Rio Trancão que, contudo, deixou a Praça da República no mesmo estado caótico em que se encontrava antes daquela obra pública. A Câmara Municipal de Loures fez obra, a antiga Junta Autónoma de Estradas fez obra, a Junta de Freguesia de Sacavém não fez nada e que se conheça, não propôs coisa nenhuma.
Portanto, nos últimos 20 anos, o miolo da Cidade não mereceu qualquer atenção e, muito menos, as acções de que deveria ser alvo, no que respeita à circulação viária e pedonal e ao estacionamento, já que, o quantitativo de automóveis dentro do núcleo urbano – aparentemente - não parou de crescer.
E até se permitiu que a zona do antigo plano de salvaguarda de Sacavém, que já havia conquistado espaço ao automóvel para o devolver ao peão e para usufruto colectivo, fosse de novo, pela circulação e estacionamento automóvel, regredindo nos progressos feitos e desqualificando uma vez mais aquela zona nobre da Cidade.
O que se tem, generalizadamente, é o caos. Do estacionamento e da circulação automóvel e constrangimentos enormes à circulação pedonal. Numa Cidade que vai envelhecendo, isso é terrível. Numa Cidade que precisa rejuvenescer e, por essa razão, atrair novos moradores e que se instalem jovens casais, não pode ser mais desaconselhável.
Evidentemente, podemos culpar, com legitimidade, os nossos “avós” pelas raízes urbanísticas de Sacavém e também podemos reclamar por muitos milhões para uma reconfiguração completa da malha urbana, mas desconfio bem que isso não traga, nas próximas dezenas de anos, qualquer benefício, pelo que o que resta é pôr mãos à obra e fazer muito do que é possível fazer para conferir qualidade à Cidade e superar parcialmente os seus problemas. A espera já vai excessivamente longa. A falta de uma mínima ideia do que fazer ou o desinteresse, já é, por demais, confrangedor.
Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.