Anuncie connosco
Pub
Opinião
Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

A Grande Invasão

3 de março de 2025
Partilhar

No Concelho de Loures, já tivemos outros momentos de imensa pressão urbanística, para os quais houve discernimento, firmeza e visão e assim foi possível manter sob controlo os afãs especulativos e a devassa do território.
No actual momento, certamente sob a inspiração de promitentes lucros substanciais, no contexto da actual bolha imobiliária e, eventualmente também, com suporte na falta de um projecto autárquico para o Concelho de Loures e estribada nas ambições urbanísticas de um Governo de turno, de passar terrenos rústicos a urbanos e, assim, alimentar uma vasta clientela de empresariado imobiliário, - do qual os próprios membros do Governo e bastantes deputados, pelos vistos, fazem parte – está a decorrer uma ameaçadora invasão construtiva.
A Associação de Defesa do Ambiente de Loures já veio fazer um alerta, colocando o foco nos elevados riscos, a prazo, da impermeabilização dos solos, mas o rumo que a coisa leva, parece ser mais grave, por muitos outros impactos que tem e terá. No curto, no médio e no longo prazo.
Para além do evidentíssimo problema da impermeabilização, esta construção desenfreada em curso - a conseguir obter clientes para todas as casas caríssimas que estão a ser construídas (há tantos portugueses tão endinheirados no nosso país) - terá consequências para a ocupação do território com construções desarmoniosas e avulsas, interferindo com a paisagem, aquecendo o ambiente mais ainda, porque não têm uma arquitectura sustentável (são casas caras mas de natureza pato-bravista), enxameando tudo de automóveis, porque não acautelam estacionamentos suficientes, exigindo mais estradas a serem pagas pelo erário público, como também mais infra-estruturas, ou seja, mais redes de água, de energia, de esgotos e de mais equipamentos de serviço público, como escolas, centros de saúde, parques infantis, ajardinamentos, etc. etc.. Ou então, não. Pode dar-se o caso de se permitir que tudo se encha de construção e que cada um trate por si da sua qualidade de vida !
O alerta justifica-se igualmente para a vaga de centros logísticos e armazéns que em breve passarão a atazanar-nos a existência, com o crescimento exponencial do volume de trânsito pesado, com o ruído, com o pó, com a falta de espaço para equipamentos colectivos, com a necessidade de mais estradas e menos árvores, com mais demoras no caminho casa-trabalho-casa e menos qualidade de vida, com mais problemas respiratórios e menos ar saudável.
Inevitavelmente, acabaremos por perceber o que está por detrás do sonho imobiliário. Ou então, paramos isto antes sequer de perceber as negociatas. A escolha é nossa.

Última edição

Opinião