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Opinião
Rui Pinheiro – Sociólogo
Rui Pinheiro
Sociólogo

Fora do Carreiro

A caminho do quê?...

5 de fevereiro de 2019
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Julgo ser plausível considerar que estamos a viver uma preocupante acção continuada, como se de um plano a médio ou longo prazo se tratasse, da chamada comunicação social portuguesa.

Desde já e num parentisis, discuto a convencional formulação “comunicação social”, porque se me afigura que a uma velocidade inesperada, é cada vez mais comunicação e cada vez menos social, já que deixando de prosseguir o interesse e direito colectivo à informação, perde incontornávelmente o seu carácter social. Aparenta estar algo em marcha acelerada e despudurada.

Por actuação deliberada dos canais de comunicação (e dos grupos económicos que estão por detrás), aproveitando as licenças de emissão a que acederam, para intervir no espaço público das formas mais perversas de que vão sendo capazes, seguindo um perigoso guião de desqualificação dos critérios informativos e formativos a que deveriam estar obrigados, legal e moralmente.

O rumo – de cujos propósitos finais ainda só se pode desconfiar – segue uma linha contínua descendente de depauperamento do nível e qualidade da informação (quer a pouca, produzida intra muros, quer a muita, comprada nos “cash & carrie” internacionais de disseminação de conteúdos), mas também de toda a panóplia dos chamados “programas” cujo modelo, dinâmicas e objectivos apontam no sentido da manipulação e exploração da ignorância e das emoções, das pulsões e dos instintos humanos básicos.

Disfarçados de informação séria e credível ou mascarados de inocente entretenimento, os pervertidos conteúdos vão-se conjugando com outros percutores (redes sociais por exemplo) para gerarem o caldo de (in)cultura que conduz os cidadãos para o individualismo, para a superficialidade de análise, para a ausência de sentido crítico, para o simplismo na interpretação de realidades complexas.

Num primeiro golpe de vista e numa análise mais displicente até pode parecer uma mera “guerra de audiências”, mas quando verificamos a sistematicidade da especulação, da mentira, das meias-verdades, da extrema simplificação, para impulsionar teses do tipo “são todos iguais”, “é só corrupção”, “ninguém faz nada”, “vivem todos à nossa custa”, aparece-nos um quadro ideológico a ganhar contornos que não se estranharia visar minar o regime democrático e abrir caminho à predisposição dos portugueses para opções populistas ou totalitárias.

O escandaloso fomento e apoio que a maioria dos orgãos de comunicação deram à tentada manifestação dos denominados “coletes amarelos” que queria “parar Portugal”, parece ser bem elucidativa do que pode estar subjacente e em marcha de risco social e político. O envolvimento e cumplicidade da televisão e rádio públicas portuguesas neste processo são preocupantes sinais de séria ameaça e razão para revolta dos cidadãos. Querem pôr-nos a caminho do quê ?!...

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