Opinião de Ricardo Andrade
Presente... esse livro por escrever!
3 de julho de 2022
Partilhar
Nos últimos meses tenho tido oportunidade de partilhar com os leitores alguns dos pensamentos que tenho quer sobre o passado, quer sobre o futuro.
Nos últimos meses tenho escolhido gastar algumas linhas com análises sobre a forma como olho para o mundo e para o nosso Concelho e como julgo que podemos caminhar para sermos melhores aprendendo com tudo o que fomos vivenciando.
Mas tão importante como analisar o passado e o futuro é olhar para o presente. Tão essencial como reflectir sobre o respeito que devemos ter sobre o que já lá vai e sobre a dedicação que devemos ter para construir um amanhã melhor, é termos a coragem de apontar onde podemos, no dia a dia, ser melhores.
Uma grande vantagem de falar sobre o passado é que podemos fazê-lo com algum distanciamento. Já sobre o futuro, temos sempre o conforto de que sendo o céu o limite, nada do que projectamos é, à partida, impossível de ser contrariado de forma indubitável.
Já quanto ao presente, um enorme desafio é-nos apresentado pelo facto de que ele está tão próximo e é vivido com tanta intensidade que corremos facilmente a tentação de nos concentrarmos sobre a espuma dos dias e de nos esquecermos do que não é tão mediático ou tão atractivo aos olhos comuns mas que, por vezes é tão mais essencial.
O presente é agora, muitas vezes, moldado pelos media e pelas redes sociais como se não fôsse verdadeiramente nosso mas sim de quem procura influenciar a sociedade e domina-la com agendas que nem sempre são claras para o olhar comum.
Todos os dias nos deixamos dominar por aquilo que nos é, de forma mais ou menos silenciosa, referenciado como sendo o mais relevante, o mais populista, o mais relevante, o mais apelativo ou o que cria mais “buzz”.
Tudo isto só faz com que fiquemos presos a guiões que não escrevemos, a ideias que não são nossas vendidas e percamos, vezes sem conta, noção do que é realmente relevante para respeitarmos o passado e construirmos um futuro diferente. É como se andássemos sempre a correr atrás das “cenouras” que são colocadas à nossa frente sem usarmos da nossa liberdade de escolha e do nosso livre arbítrio para sermos verdadeiramente nós mesmos.
Deixamos assim que a expressão “ o mundo muda a cada gesto teu” fique vazia de conteúdo pelo facto de que as nossas acções são, uma e outra vez, manipuladas impedindo assim que sejamos tudo o que queremos ser.
Por isso acredito com firme e inabalável convicção de que devemos combater olhos nos olhos a tendência a refugiarmo-nos na posição comodista de irmos com a manada e procurarmos marcar a nossa própria agenda com um presente honesto e real. Com um presente que não seja dominado por bichos papões mas sim pelas primeiras linhas das páginas dos livros que são as nossas vidas.
Por isso julgo, convictamente que devemos tentar parar de apontar notas nos livros que outros nos põem à frente e escrever o livro do nosso presente desenhando cada letra como se nada mais do que isso importasse.