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Ricardo Andrade – Comissário de Bordo
Ricardo Andrade
Comissário de Bordo

Opinião de Ricardo Andrade

O que merecemos

5 de junho de 2021
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Chegamos a meio de 2021. Chegamos a mais metade de um ano em que a nossa vida, quer queiramos quer não, é marcada por uma luta contra um inimigo que teima em não nos facilitar a vida. Chegamos a um ponto em que, dificilmente, podemos prever com exactidão o que será o nosso amanhã mais próximo.
Continuamos a falar muito sobre pandemia, sobre os faits divers do dia a dia, sobre temáticas imediatas mas pouco sobre um futuro que terá de ser de todos.
Permitimos a continuação do extremar de posições, da estupidificação da sociedade, da espuma dos dias mas fugimos ( ou deixamos fugir ) ao que realmente importa.
Criamos ídolos com pés de barro, alimentamos a cultura do mediatismo, vivemos iludidos que o irrelevante é afinal o importante.
Afastamo-nos do essencial e permitimos que os temas estruturantes apenas apareçam a espaços e sempre abordados com pouco conteúdo. Deixamos que o que vende mais parangonas sejam os temas mais irrelevantes. Permitimos uma cultura do acessório.
Falamos sobre valores e princípios mas ignoramos aquele que deveria ser o seu peso real no mundo. Debatemos prédios e marquises como se isso fôsse o mais importante para os milhões que lutam, diariamente, por se manter à tona.
Perdemos horas a falar sobre esquerdas, direitas e centros e fugimos de debater as suas bandeiras reais.
Afogamo-nos num presente muitas vezes oco e repristinamos passados como se isso pudesse resolver e preparar o futuro. Invejamos o que se passa longe de nós fugindo de buscar soluções para o nosso vizinho. Criticamos o outro sem olhar para nós mesmos e para as falhas que também temos.
Deixamos tudo acontecer como se não fôsse nada connosco. Falamos sobre as falhas na preparação das gerações vindouras mas não vêmos que essas fragilidades são culpa nossa.
Enchemos a boca para falar sobre educação, segurança ou transportes mas não construímos nada de palpável. Não seguimos um rumo, não lutamos, não defendemos aquilo em que realmente acreditamos.
Saltamos de temas para temas e não pousamos em nenhum patamar seguro que nos permita criar as bases para que o amanhã não sejam apenas sonhos mas sim realidades.
Construímos o quê? Realmente? De facto?
Suspiramos pelo ontem mas não tentamos perceber as razões que levavam a que o passado tivessem fundações fortes. Tentamos recriar como se isso resolvesse tudo. Enchemos a boca para falar sobre os filhos e netos que amamos mas não lhes damos as condições que deveriam ter para lutar pelos seus filhos e netos.
Alimentamos uma sociedade de sins e de nãos fiéricamente intransigentes olvidando que a tolerância també é um caminho.
E assim vamos, assobiando para o lado ou pior... trauteando palavras em vez de cantar músicas plenas de conteúdo. Focamo-nos na batida e não pensamos no ritmo da mesma.
Apontamos culpados e não vêmos que ele não está no final do nosso dedo que aponta mas sim na nossa mão que pode construir o que desejamos.
Enfim... temos o que merecemos! A não ser que queiramos mesmo ter diferente!

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