Opinião de Ricardo Andrade
No final do dia...
5 de novembro de 2023
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No passado recente tive oportunidade de partilhar com o leitor as dúvidas que tenho quanto à evolução deste mundo que nos rodeia e quanto aos desafios que se nos deparam enquanto parte desta sociedade supostamente cada vez mais informada ou, pelo menos, com cada vez mais acesso à informação.
Tenho deixado igualmente várias linhas acerca do papel que devemos ter enquanto seres pensantes e actores capazes de mudar o rumo dos acontecimentos.
Sigo esta linha de pensamento e reflicto recorrentemente na quantidade e qualidade da informação que nos é prestada enquanto membros desta grande comunidade que é não apenas o nosso país mas em especial o nosso Concelho.
Somos inundados diariamente por notícias e por comunicações respeitantes aos Orçamento do Estado e às opções de quem nos dirige.
Somos brindados diariamente com as manobras comunicacionais de um Governo que nos carrega com impostos directos e indirectos tentando que acreditemos que está tudo bem enquanto nos demonstra que está perdido no que toca a assegurar que os nossos filhos tenham um futuro melhor do que aquele que julgávamos que poderiam ter.
Mas se é verdade que o Governo se desdobra em comunicar ( ainda que de forma errática e deficiente ) e que estamos à distância de um clique no que toca a obter dados acerca da evolução do país, também julgo ser indiscutível que estamos cada vez mais distantes do poder local e das opções do município quanto ao que se passa dentro das nossas portas aqui em Loures.
Alterou-se a imagem gráfica do Município, mudaram-se vários dos actores políticos mas estou infelizmente enormemente mais convicto de que não temos hoje munícipes e fregueses mais informados do que ontem no que toca às opções do Executivo Municipal e dos Executivos de Freguesia.
Seria fácil atribuir apenas as culpas a quem foi eleito para governar mas penso ser mais honesto colocar o dedo na ferida e assumir que não são apenas os actores políticos do Concelho que não conseguem chegar às centenas de milhares de habitantes mas somos também nós, enquanto membros da nossa comunidade, que estamos a falhar na intervenção que procuramos ter nos destinos da nossa terra.
Se perguntar aos leitores quem são os Vereadores, os Deputados Municipais, Presidentes de Junta de Freguesia ou os Membros das Assembleias de Freguesia, a probabilidade de não saberem responder com exactidão é cada vez mais elevada.
De igual forma é também reduzido o número daqueles de nós que serão capazes de dizer quais as opções financeiras tomadas por aqueles que definem o rumo da política autárquica em Loures.
Sim, isto demonstra tanto acerca deles como diz bastante mais acerca de nós que apenas esperamos pacientemente que nos digam o que pensam e o que estão a fazer ao invés de nos mobilizarmos individual e colectivamente enquanto primeiros intervenientes deste espaço onde vivemos.
Como podemos dizer que não temos um Concelho mais evoluído e mais amigo se não participamos na vida política e associativa da nossa terra?
Como podemos dizer que se vive melhor em outros Concelhos onde trabalhamos se a verdade é que nos preocupamos mais em conhecer mais da vida desse Concelho do que da do nosso?
Como podemos almejar a sermos mais esclarecidos se somos os primeiros a falhar em nos esclarecermos?
Talvez por tudo isto seja enorme o afastamento entre eleitos e eleitores. Certamente por isto seja francamente mais realista assumirmos que não podemos esperar resultados diferentes se optarmos sempre pelas mesmas soluções.
Seguramente será mais honesto começarmos por olhar para dentro de nós e só depois atirarmos pedras aos outros.
Porque no final do dia... somos e seremos sempre melhores se procurarmos ser tudo o que queremos e tentarmos ir alem de nós mesmos.
Porque no final do dia... teremos sempre que acreditar que conseguimos ser os verdadeiros donos do nosso destino.