Opinião de José Luís Nunes Martins
Como fazer um caminho a dois
4 de julho de 2021
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Nenhuma pessoa é feita para si mesma. Precisamos uns dos outros e o amor, que é maior e vale mais do que a própria vida, deve fazer parte da nossa existência, se quisermos chegar a viver de forma plena.
Mais do que depressa ou devagar, importa que, quando caminhemos em conjunto com outra pessoa, nos empenhemos em que esse tempo seja belo e intenso. Nunca é algo que acontece sem qualquer esforço, depende sempre da conjugação das vontades.
A existência não tem dois lados, não há um lado bom e um lado mau, porque tudo é vida. Tudo pode ser partilhado. Até a vida inteira.
Fazer um caminho a dois é duro, porque implica que eu tenha de lutar contra a minha inclinação egoísta e interesseira. Importa que eu seja capaz de me afastar de mim mesmo, que olhe e escute o outro e o que nos rodeia. Respeitando o outro, porque se me aproximar demais do outro acabarei por destruir a sua autenticidade, por anular a minha identidade através dessa fome de fusão que a despreza.
Que haja sempre espaço e tempo para cada um. Que o caminho seja bem largo. Que ambos saibam que quase nunca andarão lado a lado, o passo é diferente, os momentos são desiguais e, por isso, umas vezes tens de ser tu a puxar o outro e, outras, terás de aceitar a ajuda dele seguindo-o, alguns passos atrás. Estas distâncias fazem parte da proximidade perfeita.
A tristeza de um toca o outro, mas o princípio da alegria dá-se quando um dos dois encontra coragem para puxar pelos dois, muitas vezes a partir do nada.
Não, não é equilibrado, no final da vida um terá puxado muito mais, porque sim, porque a vida não é justa, e porque... afinal, o que é melhor? Ter coragem para encontrar forças onde não existem, dar o que se tem, mesmo quando é apenas uma vontade ou viver em constante desassossego e necessidade? Preferes dar pouco ou precisar muito de receber?
Importa aceitar que de nada vale fazer uma contabilidade sobre o que fiz eu e sobre o que fez o outro... viver a dois já é muito difícil, pelo que a existência de conflitos desnecessários pode acabar por ser um fator decisivo de frustração... a dobrar.
Que eu saiba servir. Que eu saiba levar o outro pelo caminho por onde chegará ao melhor de si. Que eu aceite a minha fragilidade, mesmo quando me parece que estou melhor sem ninguém por perto.
A dois, nunca haverá garantias de felicidade... mas se nos comprometermos, pelo menos é certo que nos aperfeiçoaremos, cada um a si mesmo.
Que não chegues ao fim da vida antes que tenhas amado o que podes e deves.
Que chegues perto da morte e lhe possas dizer: a minha vida valeu a pena.
Não morras sem ter vivido!