Ninho de Cucos
Kizomba
6 de junho de 2015
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Se te faz feliz...
Nem só pelas compras de luxo nas boutiques de gama alta da Av. da Liberdade, em Lisboa, se faz notar a influência angolana em Portugal. Na verdade essa influência crescente ultrapassou há muito o domínio do plano económico-financeiro... A kizomba é um estilo musical e de dança originário de Angola. Dizem alguns tratar-se de uma fusão do semba com o zouk. Em Portugal a palavra "kizomba" é usada para qualquer tipo de música derivada do zouk, mesmo que não seja de origem angolana.
Numa perspectiva mais histórica, refere a wikipedia que, “kizomba também significa festa do povo, tendo o nome origem nas danças dos negros que resistiram à escravidão. Era congregação, confraternização, resistência. Um chamado à luta por liberdade e por justiça. Kizomba era festa e resistência cultural de um povo. Era a exaltação da vida e da liberdade”. Atribui-se a Eduardo Paim (elemento de uma banda angolana, os SOS que misturavam o merengue com outros estilos dançantes em 1980) a responsabilidade da introdução da kizom- ba em Portugal.
A kizomba é reconhecida como um ritmo africano, desenvolvido principalmente desde os fins dos anos 70, numa batida 4/4 forte e grave do bombo. Como nasceu num continente de efervescente historial musical, a kizomba é porventura o resultado de uma certa evolução: gerações jovens, ao ouvir música tradicional como o semba, sentiram que estava a faltar algo – um toque moderno e sensual. Adicionando um ritmo lento e extremamente sensual terá nascido a kizomba. A kizomba é, portanto, uma mis- tura de ritmos, cores e sabores, “uma dança plena de calor e de sensualidade que propicia uma verdadeira cumplicidade e empa- tia entre o par”.
Dançar kizomba é considerado como uma experiência única. Muito juntos, ao pé um do outro, parceiros movem-se de uma maneira sensual, onde conduzir e ser conduzido encontra uma nova dimensão. Ao ouvir o ritmo alegadamen- te sensual, cada um dos pares move-se de forma suave, não raramente de insinuação e apelo sexual devido aos movimentos bastante sugestivos. Essa insinuação é tida como normal e apreciada como parte integrante da experiência musical proporcionada pelo ritmo único do kizomba e que libertino, incita à folia. Uma dança a dois, quente, suave, contagiante e sensual, que propicia uma verdadeira cumplicidade entre os corpos.
As letras têm muitas vezes como base os temas da paixão, da traição e do erotismo, com utilização de rimas triviais e não muito elaboradas. Estas letras e as melodias de teclado, ao estilo pop mais popularucho dos anos 80, remetem-nos em alguns momentos para a música pimba. A música pimba agradece e mui- tas vezes se cola e se cruza com a kizomba. A kizomba é sem dúvida um dos casos de maior sucesso na implantação de um estilo que é, em simultâneo, música e dança em países europeus e americanos.
Profissionais angolanos, nesta arte de dançar, emigram para estes países pelas oportu- nidades criadas em escolas de dança com dificuldade em dar resposta a uma procura enorme por parte de interessados em aprender as técnicas. A kizomba domina os progra- mas de entretenimento das tv’s generalistas em prime time por via das novelas, de concursos de cantores e de dança ou até dos telejornais.
As principais rádios do país inun- dam as suas playlists com temas de kizomba levando-nos a pensar que quase não existe outro estilo musical. Em grande medida a kizomba substituiu a house music nas dis- cotecas mais mediáticas. Está na berra entre “famosos”, escuta-se na feiras e nas filas de trânsito à entrada das grandes cidades. Cresce no Brasil pela voz de Kelly Key, que lhe dedica o último álbum editado em Fevereiro e que tem no single “controle” cerca de meio milhão de visualizações no youtube.
As actuações de artistas como Anselmo Ralph, Nelson Freitas e Badoxa, entre outros, esgotam salas em todo o país. Para saber dançar Kizomba é costume dizer-se ... “basta pisar o solo angolano”. Pensando no caso dos muitos portugueses que para lá se têm deslocado nos anos recentes, esse será o últi- mo propósito ... o que os move mesmo são dólares independen- temente de crises de petróleo porque kizomba... já a temos por cá em overdose.
Se te faz feliz, consome-a!