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João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
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Ninho de Cucos

John Mayer - Sob Rock

8 de agosto de 2021
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“Sob Rock” é o oitavo álbum de originais de John Mayer, acabado de ser lançado, após um interregno de 4 anos.

Claramente orientado para a rádio, AOR – Album-Oriented Radio ou Album-Oriented Rock, este disco aposta na nostalgia e na grandiosa capacidade pop de John Mayer, sem soar datado, ainda que sem inovação.

Depois de uma incursão pelo indie dance no anterior “The Search for Everything”, John Mayer prova estar atento e estudar o rumo do mercado da música, para atacar depois com as armas de um dos maiores artistas da atualidade, seja pelo seu próprio talento e competência, seja por quem o rodeia, melhores músicos, melhores estúdios, produtores, etc.

Tudo absolutamente controlado, tudo flat, talvez em demasia!

Veja-se a apresentação ao vivo no “The Today Show” do dia 21 de julho passado, possível de assistir no youtube, para se perceber o grau de perfecionismo de Mayer e a sua banda, guiada por metrónomo sincronizado e monição in ear.

As referências de Mayer em “Sob Rock” são descaradas em boa parte das faixas do disco, 10 com a duração total de 40 minutos. Acontece que o timbre da sua voz e da sua guitarra são inconfundíveis e a questão acaba por isso mesmo resolvida. Essa marca referencial é desde logo percetível nos singles “New Light” que nos remete para Fleetwod Mac / A-HA com os seus sintetizadores marcantes, ou “Last Train Home” onde os sintetizadores parecem decalcados do tema “Africa” dos Toto. Mas não fica por aqui, “Why You Know Love Me”, um dos temas mais tristes de John Mayer, repleto de progressões de acordes menores, poderia ter sido composta pelos Eagles na fase menos country. “Carry Me Away” soa como Men At Work / Phil Collins / Steve Winwood e “All I Want is to Be With You” tem o ambiente western do êxito intemporal de Chris Isaak, “Wicked Game”.

A revista Pitchfork, quase sempre cáustica para artistas como John Mayer, reconhecendo o seu virtuosismo e talento, aponta no entanto uma candura artificial, monotonia, a falta de “sal” e excitação, numa análise global a “Sob Rock”, referindo que com este disco o artista não sai derrotado mas também não vence o desafio. Aos 43 anos John Mayer, nascido em Bridgeport, no Connecticut, colecionador de relógios de luxo (com uma coleção num valor próximo dos 20 milhões de dólares) lançou um álbum suave e nostálgico, segundo o próprio, como se de um trabalho gravado em 1988 se tratasse e tivesse ficado guardado para agora ser editado.

Os anos 80! Sempre e uma vez mais, os anos 80! :)

Apesar dos muitos milhões de seguidores e de ser considerado um dos músicos com mais sucesso no mundo, nem tudo têm sido rosas para John Mayer que em 2001 era considerado um músico afável, gentleman e cativante.

Para tal, nada ajudará a controvérsia da suas relações turbulentas com Jessica Simpson, Jennifer Aniston, Katy Perry e Taylor Swift e uma má impressão geral deixada em Hollywood com declarações polémicas e/ou disparatadas sobre as suas namoradas e a intimidade, partilhada à revista playboy. Mas isso são mexericos para outro tipo de jornal.

John Mayer - “Sob Rock”, a escutar em finais de tarde do mês de agosto.

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