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Opinião
João Alexandre – Músico e Autor
João Alexandre
Músico e Autor

Ninho de Cucos

Fleetwood Mac

2 de agosto de 2014
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De quase bestas a absolutamente bestiais

Douglas Wolk autor e colabora- dor da Pichfork escreveu sobre os Fleetwood Mac “são provavelmente uma das históricas e grandes bandas menos influentes de sempre da música popular, simplesmente porque são impossíveis de imitar”. Os Fleetwood Mac são a principal evidência de que uma certa química por um lado e relações íntimas mas muitas vezes tensas entre elementos de uma banda por outro, a tornam particularmente difícil de copiar ou duplicar.

Esta é uma das abordagens com que os Fleetwood Mac mais foram confrontados ao longo dos anos mas que no fundo prova que a visão da arte muda no tempo e que o que ontem era desprezado poderá hoje ou amanhã ser hiper valorizado em função de um mágico clic. A história dos Fleetwood Mac está, para o bem e para o mal, repleta de mudanças, volte faces, vira-casacas, poucos consensos e raras unanimidades desde logo na apreciação feita pela crítica e outros músicos em geral a esta banda formada em 1967 e que conta com mais de duas dúzias de trabalhos editados.

Tendo começado por ser um combo de blues com Mick Fleetwood na bateria, John McVie no baixo (ironicamente os 2 elementos que dão o nome ao grupo e que talvez menos tenham contribuído para o seu legado) e Peter Green na guitarra e composição, foi contudo já bem dentro dos anos 70, após o abandono de Peter Green e algumas experiências fracassadas que o grupo conhece o sucesso com as entradas de Stevie Nicks para a voz, Lindsey Buckingham na voz e guitarra e Christine McVie igualmente na voz (o line up fun- damental do grupo por onde pas- saram pelo menos 15 músicos).

Três vocalistas que eram compo- sitores dos seus próprios temas e uma imagem tricéfala que apesar de tanto êxito ninguém ousou reproduzir/copiar/imitar contrariamente ao que se passava com outras grandes bandas e artistas da época, tantas vezes decal- cados. É a trilogia de álbuns, entretanto reeditados, que marca indelevelmente a carreira deste grupo bri- tânico e a conquista da América.

O homónimo Fleetwood Mac de 1975, Rumours de 1977, um dos álbuns mais vendidos de sem- pre na historia da música com mais de 40 milhões de unidades vendidas, e Tusk de 1979, mais experimental e new wave mas que foi um “fracasso” comercial porque “só” vendeu 4 milhões de cópias, entendível se tivermos em conta o custo de produção mais elevado de sempre de um disco (superior a um milhão de dólares) e as vendas do disco anterior.

E o que faz desta trilogia algo tão característico e irreproduzível daqueles anos 70? Para além das agitadas vidas sentimentais e relacionamentos entre os seus membros (todos se separaram antes do lançamento do álbum Rumours) ou das experiências com drogas é porventura a combinação de elementos pop tradicionais que mais contribui para a singularidade do grupo. Buckingham um obcecado pelo estúdio na busca da perfeição com ataques de pânico nos momentos de gravação, o misticismo e a voz angelical e etérea de Stevie Nicks e uma secção rítmica veterana com raízes no blues elétrico moldam e definem os Fleetwood Mac de sucesso.

Nos anos 80 e 90 muitas vezes apelidados e por isso mal amados por alguma crítica de fazedores de um soft pop insípido os Fleetwood Mac são nos tem- pos que correm uma das bandas mais referenciadas por novas vagas de artistas oriundos das diferentes correntes da pop e do rock. Para não falar de Sheryl Crow ou The Corrs numa área mais mainstream da música a música e áurea dos Fleetwood Mac espalha-se pela pop folk dos Mumford and Sons, pelo indie pop das Haim, pelo eletro pop de Ladyhawke, no álbum Morning Phase de Beck.

Muito recentemente em Atlanta num concerto no Olympic Park, todos os artistas participantes (entre os quais os referidos Mumford and Sons) se reuniram com a audiência de 60000 espetadores para cantar em uníssono, o tema “The Chain” dos Fleetwood Mac. A banda canadiana Ladies of the Canyon levou tão a sério a influência que contratou o per- cussionista de Stevie Nicks para tocar bateria. Se visionarmos o youtube procurando versões do grupo encontramos muitas por The Kills, Cat Power e Deus entre outros artistas.

O ano de 2013 foi alias um ano de reunião para os Fleetwood Mac para muitos concertos e a edição de um ep com 4 temas. Em 2014 estão previstos 40 shows nos Estados Unidos e Canadá entre Setembro e Dezembro. Aí vão eles a caminho do2 50 anos de carreira!

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