Ninho de Cucos
coldplay - Everyday Life
12 de dezembro de 2019
Partilhar
No final de 2019, um novo álbum dos Coldplay, no caso até um duplo álbum, não constittuirá porventura o exercício mais apelativo e ousado de escrita sobre música para o mundo. “Everyday Life”, oitavo trabalho de estúdio da banda inglesa Coldplay é no entanto um projeto ambicioso de quem se revela desde há muito, dividido entre hits de estádio e temas intimistas.
Por um lado, os Coldplay especializaram-se ao longo da carreira de 20 anos, na produção de temas com a grandiosidade dos U2, por exemplo, canções com refrões fortes para multidões. Com isso, para além do sucesso internacional e de se tornarem numa das mais importantes bandas do pop rock do século XXI, alicerçada nas capacidades, talento e multitasking de Chris Martin, o vocalista da banda, ganharam também uns quantos detratores, um clássico nestes casos.
Por outro lado, existe no quarteto britânico uma vontade, ainda que tímida, de ampliar as fronteiras da sua música. A ambição de “Everyday Life”, como referimos, disco duplo, dividido em duas partes (Sunrise e Sunset, ou seja, o nascer e o pôr do sol) conta com colaboradores fora do universo comum do pop, como o pianista prodígio Jacob Collier, a cantora Norah Saqur, Femi e Omorinmade Kuti, respetivamente filho e neto de Fela Kuti, o astro nigeriano criador do afrobeat. Chris Martin aborda temas como racismo, religião, controle de armas, guerra e claro, o amor.
Religião, aliás bem presente em canções como “Church”, na balada “WOTW POTP” e nos coros gospel de “BrokEn” e “When I Need a Friend”. Musicalmente os Coldplay percorrem caminhos diversos que vão desde a música oriental, ao blues e ao rockabilly. A música erudita com aparições discretas nos álbuns anteriores, aparece em dois momentos especiais, “Sunrise” , instrumental de abertura e “Bani Adam”, com Chris Martin ao piano. “Arabesque” por seu turno, é o tema mais arrojado do álbum, com samples de um discurso de Fela Kuti e uma participação efetiva dos seus descendentes.
Não faltam obviamente canções a la Coldplay como a citada “Church” e “Orphans”, bem eloquentes, mas é em “Daddy”, uma balada melancólica ao piano (qual caixa de música), composição de Martin para o pai que se atinge um dos momentos mais altos e comoventes de “Everyday Life”. Não é o melhor nem o pior trabalho dos Coldplay mas pelo menos para já, a banda não acaba como chegou a ser vaticinado.
Entretanto o líder dos Coldplay, sempre idealista e empenhado em causas, anunciou que a tournée de apresentação do novo álbum, será reagendada, para ser o mais limpa possível e ter um balanço carbónico neutro.
“Vamos dar tempo, nos próximos dois anos, para fazer com que a nossa tournée seja não apenas respeitadora do ambiente, mas que tenha também um impacto positivo”, declarou Chris Martin, em entrevista à BBC, citada pela agência Lusa. Em relação à divulgação do seu oitavo álbum, chamado “Everyday Life”, o cantor avançou que quer que a nova digressão da banda tenha um balanço carbónico neutro.
“O mais difícil vai ser a aviação”, admitiu, mas “o objetivo vai ser, por exemplo, ter uma tournée sem qualquer plástico ou alimentada em grande parte pela energia solar”. “Everyday Life” sustentável e de responsabilidade social!