Ninho de Cucos
Boygenius - The Record
2 de julho de 2023
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Se para fazer uma obra prima musical são precisas pessoas, então os nomes de Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus surgem, no contexto actual da música pop, como três potenciais candidatas.
De facto a sinergia desta união de 3 mulheres que no plano individual tanto capitalizaram nos últimos anos, resulta no muitas vezes aclamado como mais excitante supergrupo do momento, Boygenius, projeto criado em 2018 e com um primeiro ep homónimo lançado em 2019.
Sem planos conhecidos desde essa data a banda acabou por lançar em Abril passado o seu primeiro álbum “The Record” e logo para alcançar o top da Billboard. Na verdade, trata-se da estreia de cada uma das artistas num ranking tão elevado relativamente a uma lista referência da música mundial.
Enquanto o ep “Boygenius” é muito sombrio e explicita as dores da depressão, já “The Record” cria um retrato inverso. O disco ironiza situações desastre criando confiança de divã com o público ao longo de 12 faixas, quais confissões que só com amigo íntimos poderíamos partilhar, tudo isto com o mérito de quem guardou o melhor de si para este projeto comum e esse é desde logo um trunfo do trio, talvez e também por isso tão reconhecido.
Baker, Bridgers e Dacus formam um grupo coeso que ultrapassa a amizade.
Quando se juntam para encarnar Boygenius, estas artistas estabelecem uma relação profissional. Cada uma com as suas características e estilos próprios, resultando portanto num álbum inconstante e agridoce mas que acerta em cheio nos objetivos a que se propõe. É constatar no Youtube através dos espetáculos ao vivo para perceber a química que aqui reina, guitarra acústica, guitarra elétrica e baixo distribuídos entre as três senhoras de 27, 27 e 28 anos e banda de suporte em fundo.
“The Record” traz-nos canções que partem de experiências particulares vividas durante o período de isolamento social, resgatam lembranças empoeiradas e sustentam na permanente sobreposição das vozes, uma componente de reforço dos sentimentos incorporados pelo trio no decorrer do trabalho, gravado durante um mês no estúdio Shangri-la Studios em Malibu – Califórnia.
“Not Strong Enough” funciona como uma perfeita apresentação de “The Record”. Diferentes pistas de guitarras e batidas que se vão revelando em pequenas doses, até ao culminar catártico de vozes em coro, sobre a falácia da inferioridade feminina.
A capacidade do trio em abordar diferentes temáticas dentro de cada canção é no fundo a característica do repertório apresentado em “The Record” e uma das suas mais valias. Exemplo evidente em “Satanist”, música que parte das experiências religiosas vividas por Baker na infância, para discutir a durabilidade e força de uma amizade ou em “Letter To An Old Poet”, que vai dos abusos emocionais à sensação de segurança compartilhada pela banda em estúdio.
“The Record” é um disco que pode ser absorvido na totalidade à primeira audição, ganhando naturalmente outro élan com uma escuta mais detalhada. Nele poderemos identificar influências de Elliot Smith, Death Cab For Cuttie, Crosby, Stills Nash & Young, Cat Power e Breeders mas é em absoluto um disco com vida e personalidade próprias.
Boygenius – “The record”, a não perder!