Ninho de Cucos
A beleza do ruído
7 de junho de 2014
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"They didn’t sell a lot of records, but everyone who heard them started a band"
A Kickstarter é uma plataforma de internet fundada em 2008 e sedeada em Brooklyn, Nova Iorque que se dedica ao financiamento colectivo de projectos inovadores e criativos nas áreas do cinema, jogos, música, exposições, moda, design e tecnologia. A Kickstarter ajuda a dar vida a estes projectos criativos, autónomos e independentes através dos fundos obtidos junto dos financiadores na sua plataforma de crowdfunding sem interferên- cia na sua concepção e desenvolvimento.
Desde o seu lançamento, mais de 6 milhões de pessoas contri- buíram com um bilião de dólares apoiando mais de 60000 projetos na plataforma Kickstarter. Porque aqui o tema é música, vamos apresentar o projecto “Beautiful noise” um documentário sobre o movimento musical “ shoegaze” do final da década de 80 e até meados de 90, um dos mais influentes e marcantes do século XX e precisamente financiado na Kickstarter. Sob o lema “Nunca venderam muitos discos mas todos os que os escutaram criaram uma banda”, Cocteau Twins, My bloody Valentine, The Jesus and Mary Chain, entre outros, ganham neste documentário, um protagonismo nunca antes alcançado e sobretudo compreendido.
O período temporal referido tornou-se fascinante pela inovação criada por bandas que misturaram o ruído provocado pelos pedais de guitarra fuzz, chorus, delay e reverb com estruturas de canção pop convencional e mantendo uma filosofia de deixar a música falar por si, desafiando regras nas suas experiências sónicas (algumas bem radicais, como as do feedback arrasa- dor de ouvidos pelos My Bloody Valentine e Chapterhouse em 1989 Londres, no Subteranea club e presenciadas aqui pelo escriba).
A liberdade criativa por um lado, a timidez por outro e a não preocupação com a reação do público durante os espectáculos levava as bandas adoptar a pose “shoe- gaze”, de cabeça para baixo, como em contemplação perma- nente dos seus próprios sapa- 22 LAZER Ninho de Cucos A beleza do ruído "They didn’t sell a lot of records, but everyone who heard them started a band" tos ou atacadores. No caso dos Jesus and Mary Chain o extremo foi atingido com a realização de uns quantos shows de costas para o público, nem sempre consensuais!
No “shoegaze” assumia-se uma determinada estética da não estética face aos padrões antes estabelcidos nas diferentes correntes da música popular. Muitos lhes chamaram “dream pop” na sua vertente e sonorida- de mais “limpa” mas pelo menos de sonho comercial nunca se tratou para estes artistas da obscuridade, ironicamente. E ironica- mente alguns deles constam dos line ups dos festivais europeus um pouco por todo o mundo nos anos que correm. Quando não estão presentes fisicamente são reencarnadas pelas actuais bandas que não renegam o peso de tal influência.
No documentário “Beautiful noise” são apresentadas cerca de 50 entrevistas com Kevin Shields dos My Bloody Valentine , Jim Reid dos Jesus and Mary Chain, Robin Guthrie e Simon Raymonde dos Cocteau Twins que nos contam histórias com mais de 20 anos em alguns momentos de forma quase envergonhada daquele período criativo. Alan Moulder produtor, Alan Mcgee da extinta Creation Records, juntamente com os elementos dos Ride, Slowdive , Lush , Catherine Wheel e Boo Radleys .
Há igualmente comen- tários de Wayne Coyne (Flaming Lips) , Billy Corgan (Smashing Pumpkins), Robert Smith (The Cure) e Trent Reznor (Nine Inch Nails) , bootlegs e vídeos pes- soais inéditos fazem igualmente parte deste belo ruído. O filme será exibido a 31 de maio e 1 de junho, no Seattle International Film Festival antes de ir para o Sheffield Doc Fest nos dias 8 e 9 de Junho. Eric Green Sarah Ogletree dire- tor e produtor especialista em marketing cinematográfico com 15 anos de experiência na indústria e a produção de inúmeros promos, trailers e kits de imprensa é a força motriz deste projecto.
Lançou a campanha de crowdfunding para o filme em novembro de 2012, depois de 8 anos de trabalho mais ou menos exaustivo. Com um objetivo inicial de reco- lher 75000 dólares em 30 dias, a marca atingiu os 84000 dólares com o contributo de 1500 finan- ciadores, para pagar o licenciamento e distribuição do documentário e apesar dos sucessivos adiamentos devidos ao acréscimo de custos sobre custos intermináveis e insanos no momento do lançamento, agora parece ser mesmo de vez, segundo revelou Eric Ogletree à revista Wired.
Documentário fundamental para quem gosta dos estilos em causa mas sobretudo de cultura musical que nos ajuda a situar e descobrir a raíz sonora de muitas das mais importantes bandas actuais na cena pop-rock.