Opinião de Joana Roubaud
Às escuras
5 de dezembro de 2020
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Se houve coisa que a pandemia nos trouxe foi incerteza. A constatação é já um cliché, mas ironicamente, não há nada mais certo.
A presença de um vírus novo obrigou-nos a lidar com a dúvida, com o medo, com a desorientação e, por acréscimo, com a ansiedade que tudo isto traz. O ser humano gosta do oposto: da previsibilidade, da tranquilidade, da segurança e do conforto que as certezas trazem. Cada um de nós no seu âmbito foi forçado a tomar decisões difíceis, a legislar na dúvida, a trabalhar com medo.
As notícias apareciam como cogumelos e em sentidos diversos acerca dos tipos de máscaras, dos tempos de sobrevivência do vírus, dos medicamentos que falsamente prometiam curas.
Torcemos o nariz às vacinas que surgiram de forma tão expedita e suspirámos depois com a esperança da vacina de Oxford, para sermos novamente surpreendidos com reviravoltas nos ensaios clínicos.
Estamos a assistir à produção de ciência em tempo real. O método científico é isto mesmo: avanços e recuos. Há contradições até que o conhecimento se consolide.
Nos tempos atuais a transparência deve ser a nossa maior exigência, bem mais do que nos digam inequivocamente o que fazer.
Será necessário socorrermo-nos da racionalidade que caracteriza o ser humano. A cautela, a serenidade e a paciência serão os melhores aliados neste caldo que borbulha de informação.
De outra forma, o que preferia: um amigo com um discurso exímio, coerente e assertivo que lhe mentisse ou um amigo que lhe dissesse sempre a verdade mas que mudasse frequentemente de discurso?