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Opinião
Gonçalo Oliveira – Actor
Gonçalo Oliveira
Actor

P'la caneta afora

De Bloody Mary na mão

3 de dezembro de 2016
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Existem pessoas que não conhecemos pessoalmente, mas que nos acompanham toda uma vida e chegamos até a considerá-los nossos amigos e muitas vezes até mesmo amigos íntimos!

Para Miguel Esteves Cardoso era o seu “grande sacana”. Para mim foi e continuará a ser pelos discos e livros que deixou, o meu amigo “Cohen”. Passámos uma eternidade de horas juntos: eu, sozinho na sua companhia, em silêncio, enquanto ele me segredava as suas canções/poemas. Estava sempre sozinho quando ele me surgia e sabia-me sempre bem a sua presença audível. Nunca o (ou)vi pessoalmente. Travei conhecimento com ele através de livros e discos de vinil e chegava-me vê-lo de muito quando em quando na pequena caixa que mudou o mundo.

Leonard Cohen nasceu em Montreal, na província do Quebec, Canadá, de uma família judaica de origem polaca. A sua infância foi marcada pela morte do seu pai, quando Cohen tinha nove anos, facto que seria determinante para o desenvolvimento de uma depressão que o acompanharia durante boa parte da sua vida. Aos dezassete anos, ingressa na Universidade McGill e forma um trio de música country. Paralelamente, passa a escrever os seus primeiros poemas, inspirado por autores como García Lorca. Em 1956, lança o seu primeiro livro de poesia, “Let Us Compare Mythologies”, seguido em 1961 por “The Spice Box of Earth”, que lhe conferiria fama internacional.

Após o sucesso do livro, Cohen decide viajar pela Europa, e acaba por fixar residência na ilha de Hidra, na Grécia, onde passa a viver junto com Marianne Jensen e seu filho, Axel.

Em 1963 lança “The Favorite Game”, o seu primeiro romance, seguido pelo livro de poemas “Flowers for Hitler”, em 1964, e pelo seu segundo romance “Beautiful Losers”, em 1966.

Em 2011 foi o vencedor do Prémio Príncipe das Astúrias das Letras.

Já estabelecido como escritor, Cohen decide começar a compor. Para isso, muda-se para os Estados Unidos, onde conhece a cantora Judy Collins, que grava duas das suas composições ("Suzanne" e "Dress Rehearsal Rag") no seu disco “In My Life”, de 1966.

No ano seguinte, Cohen participa do Newport Folk Festival, onde chama a atenção do produtor John Hammond, o mesmo que antes também tinha descoberto, entre outros, Billie Holiday e Bob Dylan. “Songs of Leonard Cohen”, seu primeiro disco, é lançado no final do ano, sendo bem recebido por público e crítica.

Cohen morreu a 7 de Novembro deste ano, aos 82 anos, na sua casa em Los Angeles. A sua morte não foi anunciada até 10 de Novembro. Cohen deixou dois filhos e dois netos. Numa entrevista concedida cerca de um mês antes, Cohen confessou que já estava preparado para a sua morte.

Termino como Miguel Esteves Cardoso na sua crónica o Público, titulada “Meu Grande Sacana”:
“Morreste, Leonard Cohen e, no entanto, continuas vivíssimo para quem já morreu. (…) pensei que ia chorar (…). Mas não chorei. As canções fizeram o que sempre fizeram: encheram-me de força, abriram-me ao medo e à beleza de estar vivo.
Adeus Leonard Cohen, dizemos nós como se não soubéssemos que já lá estás.”

Brindo a ti meu amigo Cohen… de Bloody Mary na mão!

 

Este colunista escreve em concordância com o antigo acordo ortográfico.

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