Paisagens e Patrimónios
Rota das Linhas de Torres no Itinerário de Napoleão
4 de junho de 2019
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Não é a primeira vez que abordo, nesta crónica, o importante conjunto patrimonial de valor nacional conhecido como Linhas de Torres Vedras, sistema militar constituído por várias obras militares edificadas entre 1809 e 1810 para proteger a cidade de Lisboa da terceira invasão francesa comandada por Masséna.
Recordo que este sistema de dispositivos incluídos na paisagem estremenha é caraterizado por uma conceção defensiva do território “em linha”, que aproveitou as características geomorfológicas da região a norte de Lisboa, transformando nos inícios do século XIX uma paisagem rural numa paisagem militar por meio da construção de mais de 150 fortificações de campo, escarpamentos, de uma rede de estradas militares e da implementação de um sistema de comunicação de telégrafos óticos. Os vários fortes localizados em pontos altos, ou seja, em pontos estratégicos, permitiram controlar vastas áreas, nomeadamente as estradas que na altura constituíam os acessos à cidade de Lisboa.
Este importante sistema de defesa, exemplar único de arquitetura militar, é hoje um património histórico associado ao período conturbado das Invasões Francesas, fase da história mundial caracterizada por conflitos que opunham as duas principais potências na altura, França e Inglaterra, que disputavam entre si o domínio da Europa e respetivas colónias.
Com o intuito de valorizar este património foi implementada, na primeira década deste século, a Rota Histórica das Linhas de Torres, projeto desenvolvido pelos municípios de Torres Vedras, Arruda dos Vinhos, Loures, Mafra, Sobral de Monte Agraço e Vila Franca de Xira, que no seu território possuem fortificações da 1ª e 2ª das Linhas Defensivas de um sistema de 4 que compõe as Linhas de Torres. Atualmente a sua gestão é garantida pela Associação para o Desenvolvimento Turístico e Patrimonial das Linhas de Torres Vedras, da qual são membros fundadores os municípios mencionados.
Este projeto cultural e turístico devolve à fruição pública um conjunto de percursos de visita que englobam vários fortes, itinerários apoiados em centros de interpretação e observatórios de paisagem que permitem conhecer um pouco mais da história nacional e europeia. Partindo destes fortes, todos eles localizados em sítios de interesse paisagístico, é possível não só compreender a estratégia militar que esteve na base da sua edificação e o seu contexto histórico, mas também conhecer muitos outros pontos de interesse patrimonial que indubitavelmente enriquecem o visitante.
O valor nacional deste conjunto patrimonial foi reiterado pela sua classificação como tal, em março último, pelo Estado Português (classificação que apenas aguarda a sua publicação em Diário da República), reforçando a sua importância patrimonial para a história, não só local, mas também nacional. Assim, a Rota Histórica das Linhas de Torres ao promover a visibilidade e importância deste conjunto patrimonial ultrapassa a escala local e regional e atinge uma muito maior abrangência.
A adesão da Rota Histórica das Linhas de Torres ao itinerário cultural europeu designado “Destino Napoleão” (Destination Napoléon), um dos 33 itinerários culturais do Conselho da Europa geridos pela Federação Europeia das Cidades Napoleónicas é, sem dúvida, um passo importante na internacionalização deste património cultural e destino turístico. De facto, o sistema militar em causa só pode ser compreendido se integrado no contexto europeu do início do século XIX, e nesse sentido ele constitui um testemunho histórico de dimensão internacional. Como é óbvio, a sua integração num itinerário europeu, associado à figura de Napoleão, agora conseguida, é certamente um passo positivo para a promoção além-fronteiras desta realidade nacional.
A Federação Europeia das Cidades Napoleónicas, ao lançar o itinerário “Destino Napoleão”, une mais de 60 cidades de 13 países, desde Portugal à Rússia, em torno da figura do imperador Napoleão Bonaparte, cuja ação tanto influenciou a Europa no século XIX.