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Cristina Fialho – Chefe de redação
Cristina Fialho
Chefe de redação

Editorial

Deixa para amanhã o que não te apetece fazer hoje

3 de março de 2025
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Durante vários anos adiei muita coisa. Viagens, idas a museus, poupanças, telefonemas… entre outros.
Lembro-me de pensar que era “jovem” para estar a investir numa casa, uns anos depois não há casas acessíveis, não há créditos fáceis nem regalias para maiores de 35 anos. O turismo entope os museus e já não há paciência nem disponibilidade.
Quanto às viagens, estou à espera que o meu bebé saiba andar sozinho para ser mais fácil. Sim, também já me disseram que quando andar sozinho sou eu que vou andar a correr atrás dele, e que de “fácil” essa fase não tem nada.
Mas vou adiar, porque é isso que me apetece fazer.
Lembro-me que aos 20 e tal adiei conhecer Paris porque era uma viagem que queria fazer em modo “romance”, com um namorado especial, quiçá tirar fotos pirosas com a torre Eiffel em pano de fundo e publicar no Instagram com uma legenda em francês, tipo L’amour, ou je t’aime (o que quer que me parecesse o cliché mais apropriado. Mas não aconteceu. Tive que ir a Paris em trabalho, para umas reuniões e formações (quando trabalhava no glamouroso mundo da cosmética de luxo), e tirei um dia para ver Paris. Sozinha. Estava a chover. Havia fila para tudo. Poderia parecer uma piada se não fosse deprimente. Da primeira vez que vi a torre Eiffel ao vivo fiquei arrepiada (lá está o cliché piroso, o único possível). Estava de guarda-chuva comprado numa loja de souvenirs e um vendedor de rua indiano andou atrás de mim o tempo todo a tentar vender-me um pau de selfie. Para quem não sabe, é um daqueles bastões extensíveis que agarram o telemóvel na ponta para tirarmos fotografias a nós próprios quando estamos sozinhos e temos os braços pequenos.
Desonroso.
Total: não fui em romance, nem sequer com companhia, nem numa altura do ano simpática, não fiquei nada impressionada com os Champs Elysées e achei que as pessoas se vestiam mal. Nada da haute couture que eu imaginava com transeuntes esguios cheios de jóias e de pinta.
Adiarei o que não me apetece o tempo que me apetecer, ou que conseguir.
Por agora devia ir tratar da roupa, mas chove muito, a roupa não seca e daqui a quatro segundas-feiras é Primavera outra vez.
P.S.: a rapariga da imagem não sou eu.

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