Opinião de Joana Leitão
Por conta própria
6 de março de 2019
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Ao longo do último ano, acompanhámos de perto a história de Ana Sousa e da associação Chão dos Bichos situada na Murteira. Assistimos às dificuldades que só conhece quem mantém um abrigo de animais, às tentativas de dar aos cães uma vida melhor, às expectativas de ver essa melhoria quase a acontecer e ao momento em que tudo foi por água abaixo.
A recolha e controlo das populações de animais de rua compete aos municípios, mas a verdade é que, na sua maioria, são associações e cidadãos particulares que se ocupam desta tarefa. A Câmara Municipal de Loures respondeu aos pedidos de ajuda de Ana Sousa, concedendo à associação o direito de superfície sobre um terreno público em Santo Antão do Tojal. Quer isto dizer que, a escritura pública celebrada conferiu à Chão dos Bichos o poder de lá construir um abrigo, com tudo o que isso implica, e de o utilizar sem custos, num terreno que continua a pertencer à Autarquia mas, a verdade, é que nenhuma edificação foi permitida e que a ideia acabou por ser abandonada.
Depois disso e, só no último ano, ouvimos falar de mais quatro terrenos, quatro novas luzes ao fundo do túnel, que vieram a revelar-se becos aparentemente sem saída.
Talvez a última tenha sido a mais marcante, não só pelo cansaço derivado da caminhada, mas pela adequação do local ao pretendido e pela possibilidade de rapidez na mudança, que apontava vir a fazer-se na passada época de Natal, motivo pelo qual o noticiámos. No entanto, surpresa foi a negociação quase fechada entre o Município e o proprietário do terreno em questão não ter ido para a frente e, para trás, ter andado o sonho de dar a tantos animais uma vida melhor, fazendo recuar a associação à estaca zero.
É sabido que o contrato de arrendamento do terreno acidentado da Murteira, que não oferece quaisquer condições a animais e a pessoas, chegou ao fim. Ana, as suas pessoas e os seus animais correm, assim e, a qualquer momento, o risco de despejo.
Numa localidade predominantemente rural a norte do Concelho e, com as técnicas de diminuição de ruído hoje utilizadas, impossível não será certamente encontrar um local mais adequado, aos animais e aos habitantes, dentro desta localidade.
Desta forma, a força, a vontade e a solidariedade são, mais uma vez, postas à prova, comprovando a eficácia de grupos que não precisam de estar organizados nem de ser remunerados para pôr de pé projetos do interesse comum.