Produtos Biológicos
PELA SAÚDE, PELO AMBIENTE E PELO SABOR INEQUÍVOCO
26 de novembro de 2024
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Por Pedro P. Gaspar
«Primeiro está a saúde» e logo depois é uma questão «ambiental», é o mote que os amantes de uma dieta à base de produtos biológicos partilham. E, para além destes desígnios, o sabor inequívoco e surpreendente dos produtos que produzem. «É tudo saudável e fazemos por não haver qualquer desperdício!». O desperdício é um tema muito pertinente para todos.
Mas afinal o que é a Agricultura Biológica? É um modo de produção que visa produzir alimentos e fibras têxtis de elevada qualidade, saudáveis, ao mesmo tempo que promove práticas sustentáveis e de impacto positivo no ecossistema agrícola.
Assim, através do uso adequado de métodos preventivos e culturais, tais como as rotações, os adubos verdes, a compostagem, as consociações e a instalação de sebes vivas, entre outros, fomenta a melhoria da fertilidade do solo e a biodiversidade. Aqui, a proteção de todas as plantas é baseada na prevenção.
Os mercados Agrobio – fundada em 1985-, tanto no Parque das Nações Sul como no Campo Pequeno, Almada, Carcavelos e Cascais aos Sábados de manhã, durante todo o ano, pretendem facilitar o acesso aos produtos de Agricultura Biológica assim como incentivar a produção e o consumo local de produtos frescos da época.
Defendendo assim as relações de confiança entre produtores e consumidores, bem como circuitos curtos de comercialização, com preços acessíveis a todas as carteiras. Todos os mercados têm diversidade de produtos que engloba as hortofrutícolas, transformados, vinho, azeite, mel, entre outros.
No dia 19 de outubro foi feita uma visita guiada ao Mercado Agrobio no Campo Pequeno e de seguida uma visita à Miosótis, uma loja, mercearia e restaurante onde se proporcionou o foco deste evento: o almoço.
Neste mercado do Campo Pequeno, situado mesmo no coração da nossa capital, os primeiros clientes fidelizados a chegarem são sempre os mais idosos, por razões óbvias, pois acordam mais cedo, supostamente, com uma vontade imensa de aproveitar o dia. Mais tarde aparecem os casais jovens e pessoas singulares que seguem dietas alimentares específicas. Todos acabam por voltar na semana a seguir, fielmente.
«As pessoas vêm e vão, sentimos a falta de alguns que já partiram, que já faleceram», revela enfaticamente esta produtora de Loures. Este elo de ligação intimista entre produtor e cliente é um dos pilares que sustenta a sinergia e o crescimento destes mercados.
A AGROBIO – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica, em parceria com a ECOVALIA – Associação Profissional Espanhola de Produção Biológica, encontra-se a desenvolver um projeto internacional intitulado "Organic Food 4 Future", no âmbito do qual se insere a campanha "O futuro está na sua mesa com a folha verde". Este projeto tem como principal objetivo promover o consumo de alimentos biológicos europeus em Espanha e Portugal e aumentar o reconhecimento do selo europeu de certificação biológica.
O almoço serviu de ponto de partida para a proposta da Agrobio, que se baseou na elaboração de um artigo que se centrou no relato da experiência e testemunho na apreciação e degustação deste almoço elaborado a partir de produtos biológicos, com foco na autenticidade do sabor, na riqueza tradicional e na garantia de segurança alimentar, além do impacto do consumo destes produtos na saúde das pessoas e do planeta. O valor nutricional e as diferenças entre o convencional e o biológico.
O cardápio foi sensorial, a engenharia da confeção e a arquitetura do empratamento foram evocados através das mãos criativas do chef Bernardo Agrela. Provou-se uma culinária de desperdício zero, num ato de amor aprimorado, desde a sopa do dia à base de legumes – abóbora, curgete, alho francês e cebola -, salada de cereais de trigo e de sarraceno com legumes variados e cogumelos assados, acompanhada com creme de espinafres, abóbora Hokkaido assada e cortada em meia-lua e salada verde com rebentos.
O afeto e o brio do chef refletem-se outra vez na degustação e na apresentação do segundo prato: um Frango do Além. Claramente que estivemos a saborear um frango tenro que desfazia-se no garfo e a cada dentada. O acompanhamento à base de vegetais preenchia o resto das pequenas explosões de sabores diferentes. Há mesmo quem consiga distinguir os diferentes humores de um autor, de quem o faz, de como o faz, por onde o faz através destas valências. A paixão. O momento. A cumplicidade intimista da fusão.
O menu das bebidas era sucinto, mas elegante: Água, sumo natural, cerveja e vinho. Vinho branco biológico. E isto tudo num restaurante familiar e harmonioso, com uma decoração soft e aprimorada. Com muita qualidade. Muito aprazível e guloso. E tudo isto acontece por uma razão válida: nasceu pelas mãos do proprietário Pedro Barroso. Tem uma esplanada para os meses mais quentes e proporciona momentos de prazer numa ode à gastronomia baseada na agricultura biológica.
Já existe no nosso país 27,7 % da superfície agrícola dedicada à Biológica, estamos em 4º lugar no ranking europeu, devido às políticas dos últimos anos e ao claro interesse das pessoas fazerem este tipo de agricultura. Cerca de 70% desta área são pastagens dedicadas à produção animal.
Está associado um problema hídrico e os produtos têm um valor sazonal, por estes motivos, há a necessidade de educar a população nesse sentido. Os morangos não podem ser produzidos no inverno e «isso tem de servir como exemplo», expõem veementemente. «É um gasto excessivo de água», não têm dúvidas.
Grande parte destas pessoas adaptaram-se ou porque queriam mudar de vida, ou porque foram despedidas durante a crise da Covid.19. É uma idiossincrasia entre quase todos. Também é notório a dupla atividade, pessoas que se dedicam a esta por paixão e que têm outro emprego, por obrigação.
A ironia deste negócio foi ter crescido significativamente na época do confinamento, pois era permitido estes mercados de rua por serem amplos e afastados uns dos outros. Cada vez mais surgem pessoas com idades superiores a 50 anos, a agricultura biológica não é apenas vocacionada nas faixas etárias mais jovens.
Os subsídios são pagos diretamente aos produtores para financiar e estabelecer os preços nas prateleiras aos consumidores, com o objetivo de não haver uma dissonância de preços. É um subsídio a fundo perdido e está relacionado com as áreas e com o tipo de produção e tem um valor anual entre 800 euros e 1200 euros, pago em setembro.
É explicado aos agricultores que existem regras, não basta receber o dinheiro. Cada vez mais os negócios são mais rigorosos nesta área. A condicionalidade é uma regra ambiental onde os produtores são obrigados a cumprir uma lista imensa, que é controlada pelo serviço de aconselhamento agrícola.
A exploração tem de estar certificada e atualizada, não podem, por exemplo, ter latas de óleo espalhadas, estrume junto ao poço, entre outras. Os agricultores que iniciam estes projetos de investimento têm que ser orientados em todas as valências, revelam eles. É tudo uma relação covalente, os tais átomos que partilham os mesmos eletrões.