O extraordinário feito no séc XVII
homem NASCIDO EM SANTO ANTÃO DO TOJAL
7 de abril de 2025
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Nicolau de Orta Rebelo, nascido em Santo Antão do Tojal, batizado em 13 de dezembro de 1570, conforme registo no Livro dos Baptismos, Casamentos e Óbitos daquela freguesia1 era filho de Henrique de Orta, fidalgo da Casa Real.
A sua vida singular foi, no dizer de Sousa Viterbo “(…) uma existência ativa que merece ser arrancada da sombra em que tem jazido até agora”.2
Com dezasseis anos fixou-se em Lisboa para seguir a carreira das armas e o facto de ter casado com Maria Dabreu, filha de Ruy Mendes Homem, também cavaleiro fidalgo leva-o a partir em 1591 para Goa quando este último morre sem poder comandar uma viagem às Molucas a pedido de Filipe II de Espanha. Nicolau de Orta Rebelo obtém do Rei essa autorização e empreende uma odisseia notável que se encontra registada na forma de roteiro, constando na “ Relação da Jornada que fez Nicolao Dorta Rabello, Natural de Santo António do Tojal Termo Da Cidade de Lisboa Partindo De Goa Na Nau São Jacinto, E Do Que Lhe Aconteceu Na Não Athe Tocar Na Ilha De São Lourenço. E De Como Se Tornou A Goa , E Cometeu O Caminho Por Terra Athe Chegar A Cidade De Marcelha E Do Mais Que Na Jornada Lhe Aconteceu”, 1605.3
Trata-se de uma narrativa que Jean Aubin 4 considerou tratar-se de uma literatura de viagens, uma obra que é uma fonte documental, já que Orta Rebelo evidencia na sua descrição o seu interesse e o detalhe histórico-Geográfico e etnográfico.4
Um facto marcante ocorre quando Nicolau de Orta Rebelo, já cavaleiro fidalgo, depois de ter desenvolvido uma carreira como funcionário público como escrivão de alfândega e soldado, regressa a Portugal embarcando em Goa a 30 de dezembro de 1605 na nau S, Jacinto. Descreve Orta Rebelo que a nau encalhou e depois de passar por muitos perigos e trabalhos decidiu regressar a Portugal por terra “(,,,) parecendome mais acertado fugir aos desastres, eperigos do mar, e cometer um caminho tão incerto, e duvidoso(…)”3
Acompanhado por Frei Gaspar de São Bernardino 5 sabemos que Orta Rebelo sai de Mombaça a 6 de Abril de 1606 percorrendo durante 9 meses a Pérsia, Mesopotâmia e Síria.
No seu percurso descreveu aspetos arquitetónicos, tais como as cidades rodeadas por muros de adobe, as mesquitas ou as torres de tijolos cozidos ao sol, “(…) He esta Cidade de Babilonia grande, toda cercada de muro de tijolo com muitos Baluartes, obra toda perfeita e bem acabada (…)”.3
Orta Rebelo empreendeu assim esta longa jornada de dezembro de 1605 até abril de 1607, tendo viajado de Chipre numa embarcação até Marselha.
O seu interesse pelo Oriente leva-o a regressar de novo à Índia refazendo o mesmo percurso, desta vez viajando desde Madrid em novembro de 1607, chegando a Goa a 20 de Abril de 1608, tendo sido nomeado por Filipe III como escrivão pequeno ou de língoa dalfandega ,ou seja intérprete.
Nicolau de Orta Rebelo instalou-se em Diu em 1624, tendo sido nomeado em 1629 tesoureiro do Senado de Goa e em 1635 é nomeado Conselheiro municipal de Goa.
Com a Restauração e apoiando a Casa de Bragança, é nomeado por D. João IV em 1644, Juiz da Alfândega de Goa, cargo que será legado á sua filha Lucrécia de Rebelo.
É desta forma, de toda a relevância, assinar o percurso singular de Nicolau de Orta Rebelo que um dia partiu de Santo Antão do Tojal para o Oriente.
Maria de Fátima Grilo
Lic. História