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Entrevistas

Agricultura Biológica na Apelação

da terra para o prato

4 de abril de 2022
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É na Apelação que Carlos Piedade, da Horta do Adão se dedica à agricultura biológica. Aproveitando a terra que o viu nascer e crescer dedicou-se a produzir aquilo que a terra dá levando os produtos até ao consumidor. No essencial trabalha as hortícolas.

Quais as principais dificuldades para criar uma produção biológica?

A grande dificuldade foi o começar uma vida nova. Estava sozinho na altura no projeto, e ia começar numa área nova na minha vida. Depois de começar, os produtos tinham saída, o que aos poucos foi-me dando moral.

Tinha pouco dinheiro e dificuldade em arranjar a mão de obra. Também algumas dificuldades na própria aprendizagem e o erro foi a minha escola.

Como fazia as suas vendas, no início?

Comecei por fazer o mercado em Loures e isso facilitou-me a vida.

Há alguns problemas em termos de escoamento e até de pagamento, mas estando nos sítios certos a coisa corre bem.

Sempre fui muito positivo nesse sentido. Fui aprendendo e com os erros e a Agrobio deu-me um bom apoio. Mas nunca tive apoios financeiros.

Mas, na verdade, não estou arrependido da minha escolha.

Como controla as doenças e as pragas?

Felizmente, é raro haver doenças, e na área biológico já há produtos ancestrais como o sabão de potássio, a calda bordalesa, o cobre, o enxofre, por exemplo, que nos resolvem os problemas.

Combatem o piolho, a pulga, o oídio que são os grandes problemas daqui. Mas tenho as coisas controladas.

Acima de tudo, temos de estar em cima das coisas e fazer a antecipação da propagação das pragas. Se for logo no início conseguimos dar resposta ao problema. Noutras vezes, se as pragas avançarem, ficamos mesmo sem produto. É isto a vida de um agricultor.

E como consegue ter fertilidade nos solos?

Com uma boa matéria orgânica, com o controlo com a tela anti erva, uso composto natural para a fertilização, bio-processadores com a rama e com a lenha das árvores para a terra ter mais força.

Uma coisa que tenho aqui nesta propriedade é lenha que dá uma boa respiração à terra e vai-se decompondo com o tempo.

Que vantagens identifica nos produtos biológicos?

Quando se come um legume biológico não tem nada a ver com os de produção intensiva.

A qualidade do produto, quer no sabor quer na durabilidade é muito superior e penso que está provado que é melhor para saúde. Não coloco nenhum produto que faça crescer mais rápido. O tempo de crescimento é mais longo que a agricultura tradicional. E há razões para isso.

De que forma escoa os seus produtos? Que mercados tem?

Entregas em casa, vendo também em mercados de venda direta, na rua, como o do Campo Pequeno, o de Telheiras, alguns restaurantes, e ainda algumas pequenas superfícies de referência.

Como vê o futuro da agricultura biológica em Portugal?

Apesar de estarmos num momento complexo, com o COVID e com a guerra, temos de olhar sempre para a frente.

Há uns anos em Portugal quase não existia agricultura biológica e hoje cresce dia após dia, quer em produtores quer em consumidores. Tem evoluído muito nos últimos anos e é preciso estar nos mercados certos. Já ganhou uma boa quota de mercado e penso que continuará a crescer.

O nosso Estado não nos apoia quase nada. Só dependes de ti próprio. É uma área difícil. Mas acredito que terá um futuro crescente quer em produtores quer em consumidores.

Não é apenas presente, é o futuro.

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